Muito se fala sobre os transtornos de personalidade, crises de ansiedade e dificuldades de relacionamento com pessoas portadoras de algum desses males. Eu sou uma pessoa com diagnostico de depressão funcional desde os meus 27 anos. Não posso falar nada sobre outras pessoas que portam outros transtornos, mais posso afirmar que ser depressiva funcional é dolorido demais. Fiz um texto no meu blog sobre isso (https://lovecrets.blogspot.com/2022/06/depressao-funcional.html), mas considerando essa comunidade e querendo movimentar as coisas resolvi falar sobre isso e outras coisas.
As coisas que eu leio sobre esse tema sempre se referem a quem porta a doença X ou Y, o transtorno W, Y, Z. Mas e o familiar? Os amigos? Os parentes? E quem desenvolveu a dificuldade , a doença ou o transtorno em consequência da convivência? Quem como eu sabe a origem e a raiz do problema mais tem dificuldade por mais que veja a saída de tomar a decisão e praticar a mudança? Essa dificuldade que existe entre conhecer, entender e o praticar me deixa bem transtornada em vários aspectos.
Convivi e fui criada por uma mãe que eu hoje reconheço ser narcisista oculta, que teve o diagnostico de transtorno de Bouderline e que se recusa a fazer terapia ou qualquer tipo de acompanhamento. E na convivência estou cansada de tentar mostrar que ela pode se relacionar diferente com outras pessoas e comigo; justifica as discussões cíclicas por motivos aleatórios com: "é o transtorno me desculpa vai.". Afinal é o que eu acredito?
Não, simplesmente cansei de me submeter aos caprichos dela com essa justificativa. Nem eu acredito mais que seja isso, cheguei a conclusão que ela é uma narcisista oculta que usa o transtorno de bouderline como uma muleta adequada para se esconder dela mesma, nessa fuga não importa quem ou como machuca as pessoas com quem convive. E conclui isso porque realmente acredito que ela tenha consciência de tudo que faz, e quando exposta consegue se colocar no papel de vitima das circunstancias, ou mesmo do transtorno não tratado pra escapar das consequências dos próprios atos, como mestre da manipulação que ela é.
Amo minha mãe, reconheço e sei que ela fez muito por mim e pelos meus irmãos. Admito que por esse amor passei anos negando essa verdade com receio do julgamento social sobre o assunto, ainda mais vindo de uma filha que ela fazia questão de apresentar como sendo problemática. Mas depois que me tornei mãe não consegui mais me calar, sufocar as dores e mágoas que as frases e comportamentos dela me causavam começou a ser um fardo pesado demais pra carregar. Eu passei a precisar limitar minhas interações com ela, os assuntos que me permitia falar com ela e me colocar essas regras me fez perceber que nunca tive uma relação saudável com minha mãe. me fez ver a toxidade da nossa relação.
Sabe aquele relacionamento que se divulga em novelas e filmes? Porque nesses relacionamentos nunca se mostra a real forma de se relacionar entre esses personagens e como em tudo que fica exposto a grande opinião vem carregado de exageros? Exageram no carinho que demonstram, mais nunca colocam as discussões como parte dessa relação. Exageram na superproteção mais nunca mostram que ela é consequência de algo vivido por essa que superprotege.
Exageram nos filmes que falam sobre a problemática do assunto também, o que me faz questionar o tempo todo se o que eu sinto é real. Eu amo minha mãe, e tenho muito orgulho dela. Esse fato não se sobrepõe aos males que nossa relação me trouxe. São coisas que estão juntos no pacote da minha relação com minha mãe. Cada pessoa entende e vê isso de forma que quiser, eu vejo como uma forma humana de me relacionar e agora sendo mãe uso sim dos exemplos de exageros das coisas que deram certo e deram errado pra mim ao me relacionar com minha filha.
Ser o bode expiatório da minha mãe por anos dentro desse transtorno que ela usa para mascarar o transtorno narcisista dela me fez ser uma pessoa insegura, indecisa e medrosa. E na minha busca por mudança me permiti fazer coisas só pra contrariar as estatísticas do que a grande maioria faz em situações semelhantes. Me apeguei demais a essas contrariedades que fiz e exaltei alguns erros sim. Exagerei em algumas reações mais vivi como eu achei que seria bom. Mas ao ser diagnosticada com depressão aos 20 anos eu me submeti aos diferentes tratamentos que existem, inclusive medicamentosos. E convivi com esse diagnostico até os 28 anos quando por toda a minha história e situação de vida me falaram do termo funcional como sendo um tipo de depressão.
E de verdade, por mais que eu lute contra eu sei que não dá pra fugir. Não se pode fabricar a felicidade, nem tomar comprimidos dela quando se esta com vontade de se sentir feliz. O desanimo toma conta, a raiva de mim mesma assola com força quando sabendo das coisas que precisam ser feitas eu não consigo fazer. Quero e sei que tenho condições de fazer diferente, mais não consigo agir. Não me pergunte o que me trava, eu apenas me sinto travada. Incapaz, infeliz, amarga. E o mais incoerente de tudo isso; sou uma pessoa capacitada demais em muitas coisas, com mil motivos pra ser me sentir feliz e todas as ferramentas emocionais e materiais para ser doce, para dar certo na vida, e ter o tal do sucesso.
A busca pelo meu autoconhecimento está me levando a lugares que eu não sei se quero ir, e essa indecisão me lembra que tenho motivos para não ir, e esses mesmos motivos são os que me levaram a fazer tantas outras coisas e tudo isso me assusta. A quantidade de pessoas generalizando sobre ter e carregar doenças e transtornos, se colocando em lugares e posições diante de todos para julgarem suas atitudes e escolhas, sem que o outro lado se expresse está me incomodando. Nessa gangorra de 8 e 80 me vejo buscando um equilíbrio próximo ao 36 sem nunca conseguir me estabelecer. Uma sensação de eterna busca pelo inalcançável que me fez perder o que eu tinha em mãos e não soube aproveitar. Sentir que estou chegando a algum lugar sem nunca chegar lá...
Ser depressiva funcional é isso, tenho rótulos: de preguiçosa, de relapsa e de desequilibrada porque simplesmente tem dias que me determino e consigo cumprir e tem dias que fico nessa masturbação mental que me leva quase a beira da loucura. E em algumas circunstancias atravesso pro lado da loucura mesmo, porque a sanidade é tão assustadora que esqueço o caminho de volta. Mas por algo além da minha compreensão eu acabo voltando e me culpando por esses devaneios. Me entupindo de remédios, me drogando,licitamente e me contendo em emoções entendidas racionalmente nessa busca incessante por algum sentido nessa eterna roda gigante de insensates socialmente aceitavel para uma mulher aos 41 anos, mãe solteira, desempregada.