segunda-feira, 29 de março de 2021

O fim foi adiado

        Depois de escolher a disciplina positiva como a forma que queria educar um filho eu estudei, li textos online, filtrei informações e fui percebendo que nem tudo era possível de ser aplicado, nas condições em que eu vivia.  Algumas coisas porque eu não conseguiria me imaginar fazendo, outras porque eu percebia estar criando expectativas e outras simplesmente porque eu não conseguia acreditar que poderia funcionar. Minha filha ainda não existia, Era uma ideia na minha cabeça que eu comecei a alimentar e queria acreditar que poderia um dia se tornar realidade. Mas não conseguia realmente acreditar que eu seria uma mãe capaz de lidar com um outro ser humano. 


    Eu percebi que estava criando expectativas sobre alguém que ainda nem existia. Estava projetando em outro ser humano minhas ideias, sem considerar que esse ser humano seria um outro ser! E era justamente isso que eu fugi durante toda a minha vida, satisfazer as expectativas de outra pessoa sem ter a oportunidade de ter minhas próprias. A minha vida foi buscar agradar outra pessoa querendo me libertar da necessidade de fazer com que ela reconhecesse. E sempre que eu atingia algum objetivo com excelência eu percebia que isso não a faria feliz, que não seria o suficiente e me justificava dizendo que da próxima vez seria. E quando a ficha caiu que eu nunca conseguiria satisfazer essas expectativas alheias, e que elas eram o motivo das nossas brigas eu simplesmente me machuquei tentando fazer ela entender e não se culpar ou não me culpar por tudo que acontecia. Mas claro não funciona assim na vida né.


    Então eu queria agora ser responsável por guiar outro ser humano nesse mundo e antes mesmo da sua existência eu jogava tudo que estudei no lixo do esquecimento! Tudo  sobre disciplina positiva, educar com respeito, deixar que a criança se desenvolva no seu próprio tempo com os estímulos adequados e sem super estimular a criança pra não fazer ela achar que precisa atender as expectativas do adulto para ser feliz (a forma que eu cresci acreditando), eu simplesmente não conseguiria! Eu não era capaz de ser mãe, eu não tinha essa capacidade de cooperação que precisa existir para dividir minha vida, minhas responsabilidades e minha historia com outra pessoa. E além disso, nessa divisão ter que orientar o caminho correto e mais digno que se pode seguir; como eu faria isso se eu ainda nem sabia qual era esse caminho? Não, eu não poderia ser mãe de um filho desse homem maravilhoso que só tinha o desejo de ser pai na vida, eu estava atrapalhando a vida dele!


    Eu precisava acabar com nossa historia e deixar ele buscar uma mulher que atendesse as expectativas dele, porque eu não iria me submeter a atender as expectativas de mais ninguém nesse mundo, estava cansada demais pra isso. Queria viver uma vida sem expectativas, apenas viver a vida. Estava determinada, mas minha mente racional me dizia que fazer de forma abrupta não era a melhor forma. Algo me dizia que eu tinha que ir com calma, ele tinha perdido a mãe a pouco tempo, não sabia sequer fazer uma panela de arroz sozinho, e eu com esse meu jeito empático de ser não queria deixar ele na mão depois de tudo que aprendi sobre mim mesma estando ao lado dele. Não existia aquele fogo e aquela paixão incontrolável, na verdade se existiu entre nos foi por pouco tempo, mas enfim estávamos juntos, eu devia a ele o respeito de terminar de forma correta. Ele tinha o direito de saber que eu estava me organizando para um ponto final na nossa historia. E para me convencer de estar fazendo a coisa certa eu comecei a olhar mais para os defeitos dele, que antes eu justificava como problemas que me incomodavam.


    Eu também precisava resolver a questão da faculdade, faltava tão pouco pra minha formatura, mais 6 meses e estaria com meu tão sonhado diploma universitário. O estagio dos meus sonhos estava praticamente confirmado, e se estava dando pra levar a relação sem um ponto final, dava pra focar nas outras coisas; afinal de contas se estava ruim pra mim também devia estar pra ele e se ele não terminou, então deixa rolar. Pensei assim e segui com ele, era pratico, confortável. Eu conseguia ir a faculdade, voltar e estava dando pra gente viver sem preocupações. Só me incomodava saber que eu não seria mãe de um filho dele, na verdade de filho nenhum, de nenhum homem; estava decidida sobre isso, afinal não engravidei quando quis e tentamos, nos últimos meses mal fazendo sexo eu não iria mesmo engravidar. Afinal ele foi criado com a ideia de que sexo por diversão era pecado, e como não estávamos mais nos divertindo porque ele estava ficando entediante com a questão religiosa, e sexo só rolava quando eu o procurava e ele tenso demais pra recusar aceitava fazer.


    Estava tranquila, vivendo minha vida, me afastando dos compromissos que tínhamos juntos, era melhor que ele se acostumasse a fazer essas coisas sozinho. Na questão religiosa, eu conseguiria manter minha relação com Deus como sempre tive, na intimidade, independente de uma instituição religiosa, então deixei de ir com ele a igreja, afinal ele foi criado dentro dela e não estava acostumado com a ideia de que Deus esta na nossa intimidade, e nos anos que estávamos juntos eu consegui mostrar a ele que Deus é muito mais que aquilo, mas eu tbm entendi que algumas pessoas precisam da instituição igreja para manterem esse canal de comunicação com Deus. Algumas pessoas não conseguem sentirem-se seguras ou amadas o suficiente para entenderem que Deus esta nelas e não elas em Deus.


    Os amigos, eram poucos os em comum, a maioria amigos e pessoas que entraram nas nossas relações por conta do meu jeito e outros amigos de infância dele que eu aprendi a respeitar e chamar de meus amigos. Seria uma separação simples. Eficiente e sem magoas, nos dois sabíamos que não estava bom, que merecíamos mais, e não estávamos amando um ao outro com o nosso melhor. Sabíamos mais não falávamos. Sentíamos que não estava bom mas não expressávamos nossa insatisfação focados em chegar a algo que nem conseguíamos reconhecer o que era.  Posso falar que na época minha mente racional dizia que era o final do semestre na faculdade. Eu só precisava aguentar mais alguns meses, no final do semestre vinha passar ferias aqui na casa dos meus pais, procuraria um emprego por aqui, transferiria a faculdade e voltaria para a casa dele apenas para pegar minhas roupas. 


    Só que minha mente esqueceu de falar isso para o meu corpo, e meu corpo esqueceu de deixar claro para o coração que esse era o plano. Em um feriado, senti a necessidade de beber algo para relaxar o corpo, afinal o sexo já não era mais relaxante; ele estava viajando com a igreja e eu não precisava me preocupar com recaídas, ou aventuras por descontrole físico (já que por mais que a decisão estivesse tomada eu ainda era uma mulher comprometida e nunca deixaria que outro homem se aproximasse de mim). Bebi. era feriado de corpus christi, e eu estaria sozinha em casa por 4 dias direto, sem precisar cozinhar, limpar, lavar roupa ou controlar minha vontade de dançar sozinha, de dormir no sofá, ou me policiar com minha atitude porque não era condizente com a minha pessoa. Bebendo percebi que me encolhi pra caber na caixinha do que ele e a mãe dele me fizeram acreditar ser a mulher ideal. Percebi que estar ali era permanecer na minha própria sepultura e que eu estava sendo enterrada viva por livre  e espontânea escolha. Ninguém estava me obrigando a aquela situação a não ser eu mesma!


    E refletindo sobre isso, bebendo minha cervejinha, e ouvindo uma musica do meu gosto que não tinha nada a ver com a que eu supostamente deveria ouvir eu me vi, me enxerguei cheia de defeitos, toda errada, me fazendo passar por algo que não condizia com minha personalidade, e por quê? Eu não tinha o direito de impedir ele de ser feliz e ter uma família e uma vida com outra pessoa porque eu estava na vida dele. Poderíamos viver naquele apartamento como amigos, dividir as despesas e não sentir que estávamos impondo um ao outro um compromisso que nenhum de nós dois queria ter mais. Era isso, quando ele voltasse do tal retiro eu iria propor isso a ele, vivermos como amigos, até que minha faculdade terminasse e eu iria embora quando ele pedisse. só não poderia sair naquele momento por motivos financeiros mas logo isso seria resolvido.


    Minha mente criou essa fantasia, e ela me aconchegou, me embalou e nas cervejas que se seguiram eu encarava a ideia com mais afinco e mais vontade, mas uma musica, uma bendita musica me fez lembrar dos nossos planos em uma noite, quando nos conhecemos, a noite em que conversamos pela primeira vez e a lembrança da pureza do coração desse homem que me tocou, e diferente de todos os outros não me chamou pra beber, sair, dançar ou transar, me chamou para ir acompanhar ele a igreja e almoçar com a mãe dele me paralisou. Parei de beber e fui tomar um banho, troquei a trilha sonora, eu precisava ter mais certeza do que ia fazer. Eu precisa do conselho do meu melhor amigo: Deus.


    Tomando meu banho e conversando com Deus eu senti paz, eu estava fazendo a escolha certa, mas estava agindo de forma errada. Eu era a mais experiente da relação, ja tinha vivido um relacionamento que escolhi terminar quando percebi que não era o que me fazia feliz; eu sabia que o que estávamos passando não era uma fase que ia acabar, mais um caminho que já não tinha volta. Eu tinha que falar com ele de forma muito mais definitiva, eu teria que ser mais clara. Então era isso, se ele não aceitasse a minha proposta eu teria que vir pra casa dos meus pais e recomeçar do jeito que desse 


    Ele entrou em casa; tomei um susto. Eu estava saindo do banho, cabelo molhado, camisola que resolvi colocar já que ele não voltaria pra casa eu não receberia criticas pelo fato de usar uma camisola que marcava meu corpo que "gordo e cheio de defeitos" ressaltava nesse tipo de roupa. O olhar de critica dele não me perseguiria em meus sonhos destruindo minha auto estima e eu coloquei a camisola por acreditar que estaria sozinha pelos próximos 4 dias. Eu ainda estava sob o efeito da cerveja; minha decisão de conversar com ele estava forte e toda a conversa já tinha acontecido na minha cabeça, depois há três e dias e meio com a minha cabeça no lugar e uma roupa menos sensual. Meu corpo mais frio e relaxado da tensão de meses sem um bom sexo; depois de me masturbar e relaxar de verdade. Mais não naquela noite.


    Eu não estava pronta, nem podia ter ele tão perto de mim no estado que eu estava de necessidade física de relaxamento e excitação provocada por conversas mentais comigo mesma. A chegada dele me pegou de surpresa, o motivo dessa volta antecipada tbm, o retiro foi cancelado; ele não voltou antes porque ficou conversando com um Irmao da igreja que eu respeitava e admirava muito; e nem viram a hora passar. Quando perceberam ele resolveu acompanhar o irmão até a casa dele para não deixar ele ir embora sozinho de noite (baixada fluminense). Perguntou se eu já estava indo dormir, e eu respondi que sim, só ia tomar mais uma cerveja ouvir mais um pouco de musica, e ia deitar. Ele disse que ia tomar um banho e deitar tbm.


    Peguei minha cerveja e fiquei no sofá ouvindo a  musica, que não me pergunte que eu não vou lembrar, minha cabeça já não sabia que musica estava passando. eu precisava apagar meu fogo, relaxar e evitar conversar sobre aquele assunto naquela noite. Ele saiu do banho disposto a me fazer companhia. Iriamos conversar, mas naquele momento meu corpo não queria exatamente bater papo e estava discutindo com minha mente racional sobre esse conflito. Ele me pediu para experimentar a cerveja que eu estava tomando porque ele não conhecia  sabor. Eu não fiz nenhuma objeção, e ficamos bebendo e curtindo o som que tocava na televisão. A conversa fluiu. Trocamos memorias da nossa adolescência com cada musica que tocava. lembrávamos de coisas da nossa infância.


    Estava bom, e regado a cerveja, e uma musica veio nos aproximou para dançar, nossos corpos perto demais em uma dança divertida, um beijo e a mente abotoada da cerveja e nos entregamos. Não falamos mais apenas nos permitimos sentir. Minha mente alertava que ia contra tudo que eu tinha decidido e que isso ia colocar meu projeto em risco. Meu coração me alertava que era perigoso deixar o corpo comandar assim, mas a necessidade física do momento era mais forte, era implacável e cheia de determinação. As luzes já estavam apagadas, a musica era instigante e aconteceu. entramos em combustão, literalmente foi uma fogueira que se ascendeu e não apagaria com facilidade. Precisávamos daquilo, desesperadamente, e não era só eu que precisava, eu pude sentir, além de qualquer pensamento, palavra ou situação nossos corpos se conheciam e se precisavam e naquele momento estavam se satisfazendo e eu deixei acont4ecer, desliguei qualquer racionalidade e me permiti sentir, me entreguei. Afinal poderia ser a ultima.


    E foi, a ultima naquela noite, e nos dias que se seguiram, me lembro de pararmos para comer e trocar a musica, tomar banho, mas de colocarmos roupas, não tenho essa memoria. Não sei o que se passou na cabeça dele naqueles dias, mas foram 4 dias de muito sexo, que não poderiam se resultado da bebida da primeira noite porque ela acabou primeira noite mesmo. Dormíamos exaustos e acordávamos para ficar exaustos de novo e de novo e de novo. E foi bom, era maravilhosa a sintonia que tínhamos se desligássemos todo o resto. Existia uma sintonia, uma química muito além do  meu entendimento racional.


        Mas não poderíamos viver naquela bolha. Tínhamos que viver, ele tinha que ir trabalhar, eu tinha que r pra faculdade, tinha que repensar algumas coisas, mas principalmente os dias que ficamos nus vivendo como Adão e Eva mudaram alguma coisa realmente ou foram apenas uma despedida. Para mim mudou, para ele eu não sabia. E naquela noite depois que voltei da faculdade eu tive a minha resposta ao ouvir na porta antes de abrir ele sendo aconselhado por um amigo a não tocar no assunto e deixar que eu viesse falar sobre. Afinal ele era homem e homens têm suas necessidades, nada mais justo já que eu tinha me colocado disponível ele ter aproveitado. Ele não estava errado, sentimento era coisa que só mulher se importava.


    Ouvir aquilo me cortou por dentro, eu sei que não foi ele que falou, mas ele estava ouvindo sem me defender, sem se importar por ouvir o amigo me chamar de disponível! Resumindo o amigo dele estava me chamando de prostituta e ele não estava se importando em me defender. Essa era a importância que tinha os últimos quatro dias que vivi com ele. Abri a porta, e quando ele me perguntou se eu estava ali a muito tempo e só disse que o suficiente para entender como ele e os amigos viam a minha presença na vida dele. E nesse dia passei a me comportar com frieza. Quando ele brincava eu respondia com ironia, enfatizando o fato de que pra ele ter casa limpa e comida feita ele pagaria um salario que ele não estava pagando pra mim, e ainda fazia questão de dizer que não aceitaria o pagamento com sexo, porque esse era algo que eu só ficaria disponível de novo quando eu quisesse. E ele entendeu, entendeu e não fez nenhuma questão de corrigir meu pensamento e entendimento da conversa que eu ouvi atrás da porta naquele dia.


    E eu não toquei mais no assunto, me doía saber que pra ele não fazia diferença que eu me sentisse magoada com o que o amigo disse ao meu respeito. Na cabeça dele quem tinha que se desculpar era o amigo dele, e ele fez o amigo me pedir desculpas, e nesse dia eu disse que a opinião do amigo dele ao meu respeito não era o problema, mas o fato de ele ouvir um amigo me chamar de prostituta e não falar nada, fiquei me perguntando quando que iriam aparecer amigos deles querendo sexo comigo porque ele iria se tornar meu cafetão. E foi nessa explosão que eu tive que ele entendeu o motivo do meu comportamento arredio por mais de um mês. 


    Depois de explodir eu chorei, me tranquei no quarto e chorei. Fiquei aliviada, mas continuava me sentindo suja. Eu sabia que era culpa minha, eu não deveria ter ficado na sala naquele dia, quando ele chegou do retiro cancelado eu tinha que ter ido deitar e dormir. Mais não! Fui deixar meu corpo me subjugar e agora estava colhendo os frutos dessa escolha mal feita. Não me arrependia, tinha sido bom demais, e de verdade, lembrar me fazia querer de novo, mas não ia ceder. Eu precisava me controlar e controlar esse meu lado carnal. Existiam coisas mais importantes que precisavam ser resolvidas. Eu estava com a passagem comprada pra vir a casa dos meus pais, uma festa de aniversario pelos meus 34 anos de idade, iria rever um tio que eu amava muito e meu primo querido, amigos e amigas dos anos  que morei em Americana e eu poderia ser eu mesma no tempo que estivesse aqui em SP e isso iria clarear minhas ideias.


    Eu precisava desse espaço e ele tbm e foi assim que eu vim pra SP. Nesse turbilhão de sentimentos mal esclarecidos e com uma situação financeira perigosa e cheia de medo do que poderia faltar no dia seguinte, já que ele estava desempregado já tinha mais de 6 meses e o seguro desemprego dele ja tinha acabado há algum tempo. Ele precisava desse espaço também. Ele queria ficar sozinho depois de tudo que eu falei pra ele. Eu explodi de verdade, não me lembro de tudo que falei, mas sei que ofendi e machuquei ele, eu queria machucar como eu me senti machucada, e não pensei em mais nada, fui cruel e sabia que tinha exagerado. Emocionalmente eu estava me sentindo descontrolada ja tinha algum tempo, mas atribuía isso tudo a minha magoa, que eu tentei mascarar na ironia e no silencio. mas que explodiram como todos os sentimentos represados explodem. Extrapolei. 


    A viagem foi péssima, não consegui dormir, minha cabeça não se aquietava em nada, a internet do celular não funcionou e eu não aguentava ouvir as musicas do cartão de memoria sem ficar com vontade de chorar, então eu não chorei, mas tbm não ouvi minhas musicas. Cheguei na casa dos meus pais e descansei um pouco, depois fui ao aeroporto buscar um primo meu que estava vindo la do nordeste com a esposa. Como eu gosto de dirigir, é incomparável a sensação boa que eu tenho quando pego estrada no volante de um carro.  Um prazer que só se compara com sexo bem feito. Mas fazer essa comparação pode ser injusta, já que sexo pode ser bem feito a dois e dirigir sempre vai ser um ato individual. Então dirigir na estada é algo que me faz bem, melhor que remédio controlado pra ansiedade. 


    Rever meu primo e conhecer a mulher dele foi gostoso, eles eram boa companhia, religiosos mas de bom caráter. Não eram hipócritas religiosos, mas dava pra sentir que eram pessoas verdadeiras. Respeitaram quando eu mudei de assunto ao tocarem no tema casamento, e não me questionaram mais não sobre isso. O final de semana ia ser cheio. pelo menos no quesito ficar sozinha, eu com certeza não ficaria. Minha mãe comprou cerveja e carne pra 50 pessoas,, chamou conhecidos dela pra festa e a festa já não era pelo meu aniversario e sim meu aniversario era um pretexto para a festa. Mas tudo bem, eu já estava acostuma a isso. Era típico da minha mãe. Eu estava ansiosa mas nem sabia dizer o motivo, queria algo que nao sabia dizer o que era, e bom, fiquei arrumando coisas pra fazer o tempo todo até a hora de dormir porque eu não queria deitar pra dormir muito cedo e acabar acordando cedo demais no dia seguinte. Nessa noite eu ia apagar de tão cansada.


    Mas não foi bem isso que aconteceu, dormi rápido, mas meu corpo decidiu que eu não podia dormir direto, e me fez acordar por varias vezes pra ir ao banheiro. Entre as vezes que fui ao banheiro eu tive uma visão perturbadora, me vi com um bebe deitado ao meu lado na cama, mas claro era só um travesseiro que eu estava abraçando antes de levantar pra ir ao banheiro apertada como se eu tivesse bebido uns 2 litros de agua antes de deitar. Não comentei com ninguém, e amanheci disposta e feliz. Tomei meu café planejando já que eu poderia comer churrasco o dia todo, e não precisava comer muito no meu café da manha. E meu tio e meu primo estavam quase chegando. a festa iria começar, tinha sido marcado como um almoço com jantar na área de lazer do condomínio.


    Minha mente pensou no marido que tinha ficado no rio, mas eu fiz questão de mudar o rumo dos pensamentos e focar no meu agora, eu queria aproveitar e curtir aquele final de semana, ja que os próximos dois meses seriam na companhia de uma pessoa que me achava dispensável, um peso na vida dele. Alguém que já tinha me dito que não me amava como ele achava que deveria me amar. Porque eu estava ao lado dele ainda? Eu precisava me libertar desse comportamento de auto sabotagem. Olha ali quantas pessoas tinha se deslocado de Americana pra comemorar comigo meus 34 anos. Eu sei que algumas delas só estavam ali porque era meu aniversario, caso contrario teriam outros programas pra noite daquele sábado. Marcamos almoço porque sabíamos que algumas pessoas não poderiam ficar pra de noite, mas isso eram os amigos da minha mãe que ela resolveu chamar pra festa e eu claro não ia ter nenhuma objeção.


    A festa foi muito melhor que eu imaginei que seria, eu bebi, brinquei, cantei, me diverti e comi muito churrasco. Nossa foi relaxante, e fiquei leve, me sentindo entre amigos com quem estava ali pra simplesmente estar comigo, foi gostoso. entre o final do almoço e o anoitecer resolvemos reascender a churrasqueira e emendamos o jantar. com o almoço, mas eu ja não estava comendo, a carne assando era só um acompanhamento perfumado pra bebedeira que estava solta. Teve a hora em que guardamos a carne arrumamos a bagunça no area do condomínio e viemos aqui pra casa dos meus avos, e a bebedeira continuou. Meu tio, meus primos e suas esposas já tinha ido dormir então fiquei eu e minha tia com uma amiga de americana bebendo e conversando. Me deitei ja passava das 3 da manha e nao fui incomodada pelo banheiro até as 8 da manha, ironico eu ter passado a noite anterior indo ao banheiro e essa depois de um dia bebendo cerveja pra caramba eu nao ter nem tido vontade de ir ao banheiro ao acordar.


    O domingo já começou com carvão sendo colocado na churrasqueira, e cerveja na geladeira. Eu iria embora naquela noite, passagem já estava comprada. Uma pra ir pra capital e da capital pro rio de janeiro. Foi um  bom domingo. Meu tio foi embora com um dos meus primos logo depois de acordar, e eu fiquei com meus amigos de americana, e meu outro primo de recife, curtindo o cheiro de churrasco e ouvindo musica enquanto minha mãe e meu primo conversavam sobre obra para terminar a piscina da casa. Foi bom demais, minha irmão veio com o marido de sp pra me dar um abraço e fizeram bolo pra mim. Eu tive dois bolos nesse aniversario. Pensando nisso agora eu vejo como serviu ao proposito de me fazer desistir de voltar pro rio de janeiro, mais fui racional demais; me dei desculpas demais e deixei o orgulho ser meu guia. 


    A noite meu primo e a esposa foram me levar a rodoviária da cidade. O embarcar a esposa dele colocou 20 reais na minha mão e falou pra comprar um teste de gravides quando chegasse ao rio. Eu sorri mas fiquei curiosa. No meu pensamento eu iria usar esse dinheiro para comprar linguiça e ter mistura pra semana toda. Na semana seguinte Deus providenciaria pra termos mais. Naquela noite quando eu esperava na capital o horário do ônibus do rio eu recebi uma mensagem do marido dizendo que não iria a rodoviária me buscar pq tinha sido chamado pra trabalhar e ia ser o primeiro dia de integração na empresa e ele precisaria estar la as sete da manha. Foi uma viagem horrível, na qual o desconforto de estar bem ao lado do banheiro do ônibus somado ao balanço de ficar em cima das rodas traseira me fizeram ficar muito mal humorada. 


    Eu cheguei em casa e o marido ainda estava dormindo. Chamei ele porque ele me disse que tinha compromisso, mas ele não recebeu bem essa ajuda para acordar. Meu mal humor não recebeu bem essa grosseria e eu deitei no sofá da sala. Ia esperar até ele sair e ir na faculdade trancar a matricula, encerrar meus vínculos com todos que me importavam ali e sair. Não tinha mais nada que eu pudesse fazer ou quisesse fazer ali. estava me fazendo mal e eu nem devia ter voltado. Me martirizei, percebi que ele acordou e fingi que dormia, se fossemos conversar eu ia chorar e eu não queria chorar mais. Assim que ele saiu eu levantei. precisava de um banho, o cheiro de ônibus ainda estava no meu nariz.


    Ao tirar a roupa achei os 20 reais que minha prima me deu, coloquei a grana na mesa e sorri fui tomar banho. Grávida eu? depois de tantos anos de tentativas frustradas e justo no memento que o nosso relacionamento estava acabado Deus iria permitir uma gravidez? Nunca, mesmo que a ultima vez que tivemos relações tenha sido memorável um relacionamento  não se sustenta de memorias. Seria muito irônico depois de bebe como eu bebi álcool minha glicemia devia estar mais de 400 e um bebe se sentiria sufocado e não teria nenhuma hospitalidade do meu organismo que facilitasse sua sobrevivência. Não eu ia era comprar minha linguiça. iria na faculdade resolver sobre trancar a matricula e a noite iria na aula apenas pra me despedir dos meus colegas, e uma amiga que tinha. Sairia assim que ele chegasse com a bicicleta. 


    No caminho do açougue eu passo em frente a farmácia e lembro mais uma vez da esposa do meu primo, na porta do ônibus. Não, se eu comprasse o teste eu não teria como comprar a linguiça. Passei direto e comprei minha linguiça. Voltando uma garota esta saindo da farmácia carregando muitas sacolas e um bebe. Dava pra ver que estava cansada, e o marido no carro nem desceu pra ajudar ela a colocar as sacolas ou a criança no carro. E isso que aconteceria se eu estivesse gravida. Um marido que não tinha nenhuma empatia em ajudar. Ajudei ela abrir a porta do carro pra entrar, ela entrou e agradeceu. O marido ligou o carro e saiu acelerando, Percebi que uma das sacolas tinha caído no chão. Peguei e era um teste de gravides. Estava tarde já, eu não ia descobrir nunca onde era que a garota morava, e provavelmente aquilo era alguma mensagem do universo.


    Eu não devia ter dormido tanto depois que tomei banho, ja estava em cima da hora pra sair pra faculdade. Estava apertada pra fazer xixi. Fui pra casa, depois eu passava na farmácia pra deixar a sacola do mulher. Que tragédia, ela estar gravida com um pequeno no colo e claramente um marido como aquele. Mas se o marido voltasse pra pegar a sacola ele que comprasse outro exame, afinal foi culpa dele a sacola ter caído.  Cheguei em casa quase fazendo xixi na roupa, corro pra banheiro com a sacola na mão, quando sentei nem eu entendi porque deixei a linguiça mas não deixei o teste em cima da mesa, resolvi fazer.  Coloquei a tira dentro do potinho com minha urina e fui fritar uma linguiça pra comer antes de sair pra faculdade, era o tempo de o marido chegar. Se tudo desse certo ainda conseguiria conversar com ele antes de sair pra não ter mal entendidos. Esqueci que tinha feito o teste. eu tirei a tira e deixei em cima da mesa esperando o tempo de reação indicado na bula e esqueci. Ele chegou, e dois tracinhos naquela tira mudaram completamente tudo.


    Eu fui ate a sala pra pegar alguma coisa, não me lembro o que era, ele entrou em casa e eu estava encarando a tira em cima da mesa, minha cabeça rodando e juro que meu coração tinha parado de bater por um instante. Ele olhou na mesma direção enquanto fechava a porta. Eu me lembro de ele perguntar o que foi, e eu dizer pra ele, parabéns você será papai. Respirei fundo pequei a pasta de fichário e minha bolsa, coloquei na cesta da bicicleta e abri a porta pra sair. Eu tinha aula na faculdade. Não me pergunte como cheguei na faculdade, mas entrei na sala de aula eu ainda não tinha conseguido respirar direito. Eu pensava em tudo que eu tinha planejado, nos planos que fiz com o pai dessa criança antes da nossa relação ficar como estava. Eu pensava em como ia ser a minha vida com um bebe. Que tipo de vida eu ia oferecer a essa criança. Como assim eu estava gravida? Minha amiga me perguntou se eu estava bem, e eu respondi estou gravida!


    Ela sorriu e se levantou pra me abraçar. Me deu os parabéns, e desejou tudo de melhor pra mim e pra criança e eu desmaiei. Foi o único desmaio em toda a gravidez, mais foi decisivo, acordei na enfermaria da faculdade, glicemia em 480 e antes da minha amiga conseguir dizer que eu estava gravida eu acordei e segurei a mão dela. Ela entendeu, a enfermeira injetou insulina e me mandou ir embora. Eu não fui embora, fiquei no pátio da faculdade até me sentir segura pra pedalar ate minha casa. Que casa, o apartamento era dele, e nos não tínhamos um relacionamento pra eu poder chamar de casamento, essa criança iria nascer em um campo minado e a culpa seria toda minha e da minha inconsequência. O que eu estava me dizendo, eu estava gravida, finalmente Deus me deu a benção de gerar uma criança! E se não fosse pra ser eu nao teria descoberto a gravidez; naquela altura da vida eu já entendia que nada acontece fora do que temos planejado e escolhido pra nossa vida. 


    Foi uma escolha passar aquele feriado com o pai dessa criança, e era uma escolha nossa sermos pai, a criança veio, e se não veio no nosso melhor momento era porque não era realmente o melhor momento. Eu precisava cuidar da glicemia, minha endócrina já tinha me dito que assim que eu tivesse um positivo eu podia ir lá no posto e aguardar para ela me atender depois das consultas do dia. E terça era o dia de atendimento dela. Eu iria lá na manha seguinte, já estava conseguindo pensar com mais clareza. Peguei a bicicleta e voltei pra casa. Ainda tinha que lidar com o pai desse bebê. Pedalando e planejando ir na tal clinica da mulher e depois na endocrinologista para poder começar meu pré-natal, afinal eu sabia que quanto antes começasse o acompanhamento melhores seriam as condições de nascimento da criança. O pai era um detalhe que eu iria lidar depois. Eu tinha consciência de todos os problemas de saúde que esse bebe poderia ter caso eu não conseguisse controlar a glicemia, eu sabia que minha medicação de diabetes eu não poderia tomar porque faria mal pro bebe. eu precisa cuidar disso.


    Cheguei em casa e ele estava no sofá, assim que entrei ele desligou a televisão e percebi que iriamos conversar. Bom ele podia fugir da responsabilidade por enquanto, afinal era dentro do meu organismo que estava nosso bebê. Nosso bebê. Como era gostoso falar isso em pensamento, será que falando em voz alta seria tão bom? Eu repeti a ele meu pensamento, eu e vc já não funciona mais, Essa gravidez veio agora e se eu tivesse deixado pra fazer esse exame amanha provavelmente vc nem estaria sabendo pq eu ja estaria na casa dos meus pais. Mas descobri e preciso controlar minha glicemia e iniciar meu pré-natal com urgência por causa da minha diabetes, então se vc não quiser se envolver na gravides, tentar comigo que nossa relação dê certo eu não vou brigar.  Irei pra SP e te aviso quando nascer pra vc registrar. Quando terminei de falar ele suspirou e disse: Você ja decidiu? mas posso te pedir pra me deixar fazer parte da vida dessa criança? Eu sempre sonhei em ser pai, e podemos não estar no nosso melhor momento, mas tínhamos planos que envolviam criar uma criança. Será que podemos pelo menos tentar fazer isso. Se não der certo eu serei pra sempre o pai e vc será pra sempre a mae, mas saberemos que tentamos nosso melhor para essa criança.


    Não me pergunte se foi a descarga de hormônios, se foi uma loucura que tomou conta de mim, mas aceitei, sorrindo eu aceitei, ele me abraçou e me beijou e foi intenso. Ficamos felizes, fizemos amor, ficamos juntos a noite toda e quando o sol surgiu acordamos nos acariciando e bom, foi como um recomeço, de um novo recomeço. Eu precisava esquecer as palavras duras que ouvi dele, esperava que ele esquecesse as que u disse a ele tbm antes de viajar. Ele entraria no trabalho ao meio dia, e me acompanhou na clinica da mulher pra saber como eu tinha que fazer para conseguir começar meu pré-natal. Me acompanhou ate o posto pra falar com minha endocrinologista depois de passarmos no laboratório e fazer o exame de sangue. Depois foi pro trabalho a pé pra nao ter atraso na minha ida a faculdade. ele so ia sair as dez da noite do serviço.


    Passei a tarde agradecendo a Deus pela benção do bebê, orando e feliz pensando em como Deus preparou tudo direitinho pra vinda dessa criança. Um trabalho pro pai dela, a descoberta da gravidez a tempo de salvar a sua vida e controlar minha diabete. Eu estava feliz, não completamente, tínhamos passado por maus momentos e isso seria um sombra sobre a gente se não conversássemos, mas conversar era uma forma de reviver e isso poderia ser ruim. Resolvi não conversar sobre o assunto. Contei para meus pais, que a principio se sentiram traídos e acharam que eu enganei eles e já sabia da gravidez quando havia estado na casa deles. Mas meu primo e a esposa ainda estava na casa deles e deve ter conversado com eles intercedendo a meu favor. Inclusive foram eles que me mandaram o dinheiro para os exames iniciais que eu precisava fazer para dar entrada nos papeis do pré-natal, meus pais se recusaram a ajudar naquele momento.


    O tio dele e o irmão também não gostaram da noticia, chegaram a levantar questão sobre ele ser mesmo o pai, ja que eu vinha muito pra SP. E nisso percebi que ele também duvidava. Mas empurrei essa sensação ruim pro lado e segui firme na busca pelo que precisava ser feito para garantir o pré-natal da minha filha. Sim eu sabia de alguma forma que seria uma filha, apesar de racionalmente dizer em voz alta que queria que fosse um menino, mais porque eu sabia que era a vontade do pai, mas principalmente eu queria que viesse com saúde, independente do sexo. E mantive meu otimismo. Depois do exame de sangue e do ultra som inicial eu entrei com a documentação pra conseguir uma vaga em um hospital de alto risco para meu pré-natal. Eu estava totalmente dependente do SUS. Depois de feito tudo que eu poderia fazer eu esperei. Estava nervosa e ansiosa, mas confiante e amando saber que tinha um outro ser humano se desenvolvendo dentro de mim apesar de tudo em volta ser contra seu desenvolvimento eu queria que esse ser soubesse que eu escolheria ter ele comigo independente de qualquer situação externa. Mas enquanto isso eu ainda era uma mulher casada, fingindo ser feliz em um casamento de aparências. 


    Mas isso é historia pra outro post. rsrsrsrs














    

segunda-feira, 1 de março de 2021

Quarentena que começou já fazem...

    Hoje faz um ano que a primeira onda desse vírus implacável foi decretado uma ameaça a vida no Brasil, desfiando a palavra do presidente, que insiste até hoje mesmo já tendo sido contagiado pelo vírus na primeira onda, o discurso continua. Quem sabe o que é sabe, hoje em dia se posicionar pode ser uma arma nas mãos de quem quer se sair bem nos próximos minutinhos da vida medíocre que não consegue perceber que a vida vai muito além dos minutos em que se dar bem traz uma sensação de alivio. então.

    O texto de hoje pode estar e ser bem confuso, estou muito angustiada com tudo que tem acontecido e perceber que muitas ideias querem sair ao mesmo tempo me faz escrever de forma desconexa e cheia de erros. Mas a verdade e que estamos vivendo esse terror imposto por esse vírus já há mais de um ano. Porque oficialmente tem um ano que ele foi reconhecido como o perigo que é e representa, tem muito mais tempo que aterroriza o mundo e ceifa vidas e mais vidas. 

    Agora depois de ver outros países viverem o caos de não darem a devida importância aos cuidados preventivos e diários que são necessários e continuamente são ignorados. Estamos entrando na historia, o país que vê crescer suas dificuldades no enfrentamento do corona vírus enquanto o mundo começa a respirar aliviado. E sabe o que é mais assustador? Vimos tudo que esta acontecendo no brasil acontecer em outros países menores que tiveram a mesma atitude que a nossa. E não estou falando de atitude do governo, porque esse nunca fez nada que preste e não acreditei que faria agora. Estou falando da população.

    Nós vimos nas reportagens países deixando seus mortos pelas calçadas porque o sistema funerário não estava dando conta de tanto serviço. Mas vamos ao bar que esta funcionando com musica ao vivo porque é um ambiente controlado e as pessoas são conscientes e não vão se arriscar a irem em um lugar assim se tiverem suspeita de estarem contaminadas! Doce ilusão, a humanidade se resume em dois grupos principais, os que se importam e os que não se importam, e esses grupos convivem há séculos ou mais e sempre se misturam.

    A questão é que os que se importam sempre procuram entre os que não se importam aquilo que os fez perceber que se importavam, e sempre tentam ajudar, salvar ou mesmo ser a salvação dessas pessoas. A empatia é pra ser sentida e não racionalizada. E essa diferença é o que faz a evolução ser tão magica e cheia de oportunidades. Algumas pessoas aprendem a se importar e outra passam a fingir que não se importam por não conseguirem satisfazer o ego de saber que fizeram outras se importarem.

    Confuso? Muito, sentimentos são confusos. Eles devem ser sentidos e não racionalizados, portanto pare de racionalizar o que vc esta lendo e apenas sinta. A fluidez de sentir nos permite viver coisas além da nossa imaginação, e isso não é clichê de conto de fadas, é realidade de quem se permite. Simples e diretamente se permita viver a vida e não racionalize. A vida é fluida e rápida, passa como um piscar de olhos, se prevenir e não ir a ligares onde a exposição é fatal, não é ser chato, de direita ou de esquerda, é ser humano. Não se expor previne a você sua família e seus vizinhos e as pessoas que como você precisam trabalhar e como nós também estão sofrendo como todos nessa disputa politica que soma números mas esquece as historias!

    Não deveríamos precisar de uma instituição governamental para dizer que estamos morrendo como gado no abate! Supostamente temos livre arbítrio, podemos pensar e vivemos em sociedade, mas nos subjugamos a decisão do governo sobre se devemos ou não evitar a disseminação do vírus na nossa cidade, fechando as portas dos comércios por alguns dias, afinal somos egoístas de achar que não podemos deixar de trabalhar um dia, que não podemos acreditar nos fatos, porque é muito mais confortável acreditar nas conspirações e mentiras que se espalham para ocultar o medo que carregamos diariamente de descobrir que estamos contaminados.

    Nosso medo é natural, ele nos permite a sobrevivência, e a lei de Darwin diz sobre a sobrevivência do mais forte, do mais esperto e do mais apto, ela não fala sobre politica, nem sobre lados ou escolhas, ela fala sobre evolução. Evoluir vai além de politica, de egoísmos ou decisões. Evoluir é ser sobrevivente. E esse vírus veio mostrar que dinheiro, politica, status ou qualquer bem subjetivo é supérfluo.  Hoje em meio a tantas reportagens vi uma que me fez pensar em começar a escrever, o Zoológico de alguma cidade cedeu aparelhos usados nas cirurgias de animais do Zoológico para os hospitais da cidade que não estão tendo equipamento suficientes para infusão de medicamentos e respiradores por causa da Covid.

    O que me chamou a atenção não foi o fato de os equipamentos hospitalares de um Zoológico, afinal os equipamentos são praticamente os mesmos usados para humanos tbm. O que me chamou a atenção nessa matéria foi que houve alguém com discernimento para entender que não existia essa diferença entre os equipamentos e aceitou usar ele para o que é mais necessário no momento. O que em tempos como o que vivemos é raro. 

    Afinal enquanto os governantes discutem se vamos ou não receber auxilio, quem pode ser retirado da  lista de beneficiários, e até que limite esse valor pode ser reduzido, o salario de cada um deles esta sendo creditado na conta, o carro deles esta abastecido com o dinheiro do cofres públicos que são preenchidos com os impostos que pagamos em tudo que consumimos para nossa sobrevivência. Muito surreal vivermos uma situação onde o que consumimos abastece os cofres e garante o salario dos que decidem se vamos ter o dinheiro pra gastar com esses consumos!

    Mas as pessoas focadas na própria historia não se permite ver as necessidades dos outros. Por simplesmente estarem passando por tantas necessidades elas não se percebem em meio a tantas outras pessoas com necessidades iguais. è natural ignorarmos a dor do outro enquanto não passarem pela situação de terem suas dores ignoradas. Infelizmente vejo os brasileiros caminhando para isso. e imagino que a dor pode ser o remédio que a humanidade está precisando para acordar e despertar desse pequeno mundo de picuinhas e disputas politicas que já levou mais de um bilhão de pessoas pelo mundo.

    Eu comecei esse texto pensando em colocar pra fora toda minha indignação e tristeza em saber que as pessoas continuam ignorando o perigo, transformando em discussão todas as conversas sobre aa necessidade de prevenção e isolamento. Estou cansada de ver as pessoas se matando e enchendo os hospitais com um problema que poderia ser evitado se pensássemos mais uns nos outros e menos nas vantagens e desvantagens que podemos ter frente a esse desafio. Esse tempo vai passar, as coisas vão melhorar e quem conseguir vai ser vacinado.

    Acredito na sabedoria do universo. As energias sempre vão fluir para um equilíbrio e tenho certeza que o equilíbrio está próximo, se houvesse um desequilíbrio grande demais acho que as coisas estariam muito piores, mesmo sabendo que podem piorar eu quero acreditar que não vão. Eu preciso acreditar que vamos conseguir conviver com essa pandemia como convivemos com a pandemia do HIV. Porque não escutei ainda ninguém fazer essa comparação? Diferente do HIV nós já encontramos  as vacinas e estamos começando a entender que a defesa de cada um depende de cada um. Cada um tomando sua própria consciência e fazendo a sua parte.

    Agora eu termino o texto pedindo que cada um tenha a consciência de saber o que esta fazendo ao deixar de se cuidar com o uso de mascaras, ao não lavar as mãos, ao ir em aglomerações e esquecer que além de você existe um universo de pessoas que também tem medo do dia de amanha; mas estamos vivendo e estamos vivos, e acredito que muitos querem continuar vivendo. Vamos por as prioridades em primeiro lugar, brigar para poder continuar trabalhando e mantendo o comercio aberto mas pra quem frequentar se todos resolverem seguir em isolamento? Os patrões que pagam nossos salários também sofrem com a situação. muitos precisaram ou vão precisar demitir; fechar as portas, mas permanecem vivos! E estar vivo na situação que vivemos hoje é um privilegio que os pacientes que ocupam 99,7% dos leitos de UTI da federação gostariam de dizer que terão.