terça-feira, 21 de junho de 2022

Transtornos e devaneios

 Muito se fala sobre os transtornos de personalidade, crises de ansiedade e dificuldades de relacionamento com pessoas portadoras de algum desses males. Eu sou uma pessoa com diagnostico de depressão funcional desde os meus 27 anos. Não posso falar nada sobre outras pessoas que portam outros transtornos, mais posso afirmar que ser depressiva funcional é dolorido demais. Fiz um texto no meu blog sobre isso (https://lovecrets.blogspot.com/2022/06/depressao-funcional.html), mas considerando essa comunidade e querendo movimentar as coisas resolvi falar sobre isso e outras coisas. 

As coisas que eu leio sobre esse tema sempre se referem a quem porta a doença X ou Y, o transtorno W, Y, Z.  Mas e o familiar? Os amigos? Os parentes? E quem desenvolveu a dificuldade , a doença ou o transtorno em consequência da convivência? Quem como eu sabe a origem e a raiz do problema mais tem dificuldade por mais que veja a saída de tomar a decisão e praticar a mudança? Essa dificuldade que existe entre conhecer, entender e o praticar me deixa bem transtornada em vários aspectos.

Convivi e fui criada por uma mãe que eu hoje reconheço ser narcisista oculta, que teve o diagnostico de transtorno de Bouderline e que se recusa a fazer terapia ou qualquer tipo de acompanhamento. E na convivência estou cansada de tentar mostrar que ela pode se relacionar diferente com outras pessoas e comigo; justifica as discussões cíclicas por motivos aleatórios com: "é o transtorno me desculpa vai.". Afinal é o que eu acredito?

Não, simplesmente cansei de me submeter aos caprichos dela com essa justificativa. Nem eu acredito mais que seja isso, cheguei a conclusão que ela é uma narcisista oculta  que usa o transtorno de bouderline como uma muleta adequada para se esconder dela mesma, nessa fuga não importa quem ou como machuca as pessoas com quem convive. E conclui isso porque realmente acredito que ela tenha consciência de tudo que faz, e quando exposta consegue se colocar no papel de vitima das circunstancias, ou mesmo do transtorno não tratado pra escapar das consequências dos próprios atos, como mestre da manipulação que ela é.

Amo minha mãe, reconheço e sei que ela fez muito por mim e pelos meus irmãos. Admito que por esse amor passei anos negando essa verdade com receio do julgamento social sobre o assunto, ainda mais vindo de uma filha que ela fazia questão de apresentar como sendo problemática. Mas depois que me tornei mãe não consegui mais me calar, sufocar as dores e mágoas que as frases e comportamentos dela me causavam começou a ser um fardo pesado demais pra carregar. Eu passei a precisar limitar minhas interações com ela, os assuntos que me permitia falar com ela e me colocar essas regras me fez perceber que nunca tive uma relação saudável com minha mãe. me fez ver a toxidade da nossa relação.

Sabe aquele relacionamento que se divulga em novelas e filmes? Porque nesses relacionamentos nunca se mostra a real forma de se relacionar entre esses personagens e como em tudo que fica exposto a grande opinião vem carregado de exageros? Exageram no carinho que demonstram, mais nunca colocam as discussões como parte dessa relação. Exageram na superproteção mais nunca mostram que ela é consequência de algo vivido por essa que superprotege.

Exageram nos filmes que falam sobre a problemática do assunto também, o que me faz questionar o tempo todo se o que eu sinto é real. Eu amo minha mãe, e tenho muito orgulho dela. Esse fato não se sobrepõe aos males que nossa relação me trouxe. São coisas que estão juntos no pacote da minha relação com minha mãe. Cada pessoa entende e vê isso de forma que quiser, eu vejo como uma forma humana de me relacionar e agora sendo mãe uso sim dos exemplos de exageros das coisas que deram certo e deram errado pra mim ao me relacionar com minha filha.

Ser o bode expiatório da minha mãe por anos dentro desse transtorno que ela usa para mascarar o transtorno narcisista dela me fez ser uma pessoa insegura, indecisa e medrosa. E na minha busca por mudança me permiti fazer coisas só pra contrariar as estatísticas do que a grande maioria faz em situações semelhantes. Me apeguei demais a essas contrariedades que fiz e exaltei alguns erros sim. Exagerei em algumas reações mais vivi como eu achei que seria bom. Mas ao ser diagnosticada com depressão aos 20 anos eu me submeti aos diferentes tratamentos que existem, inclusive medicamentosos. E convivi com esse diagnostico até os 28 anos quando por toda a minha história e situação de vida me falaram do termo funcional como sendo um tipo de depressão.

E de verdade, por mais que eu lute contra eu sei que não dá pra fugir. Não se pode fabricar a felicidade, nem tomar comprimidos dela quando se esta com vontade de se sentir feliz. O desanimo toma conta, a raiva de mim mesma assola com força quando sabendo das coisas que precisam ser feitas eu não consigo fazer. Quero e sei que tenho condições de fazer diferente, mais não consigo agir. Não me pergunte o que me trava, eu apenas me sinto travada. Incapaz, infeliz, amarga. E o mais incoerente de tudo isso; sou uma pessoa capacitada demais em muitas coisas, com mil motivos pra ser me sentir feliz e todas as ferramentas emocionais e materiais para ser doce, para dar certo na vida, e ter o tal do sucesso.

A busca pelo meu autoconhecimento está me levando a lugares que eu não sei se quero ir, e essa indecisão me lembra que tenho motivos para não ir, e esses mesmos motivos são os que me levaram a fazer tantas outras coisas e tudo isso me assusta. A quantidade de pessoas generalizando sobre ter e carregar doenças e transtornos, se colocando em lugares e posições diante de todos para julgarem suas atitudes e escolhas, sem que o outro lado se expresse está me incomodando. Nessa gangorra de 8 e 80 me vejo buscando um equilíbrio próximo ao 36 sem nunca conseguir me estabelecer. Uma sensação de eterna busca pelo inalcançável que me fez perder o que eu tinha em mãos e não soube aproveitar. Sentir que estou chegando a algum lugar sem nunca chegar lá...

Ser depressiva funcional é isso, tenho rótulos: de preguiçosa, de relapsa e de desequilibrada porque simplesmente tem dias que me determino e consigo cumprir e tem dias que fico nessa masturbação mental que me leva quase a beira da loucura. E em algumas circunstancias atravesso pro lado da loucura mesmo, porque a sanidade é tão assustadora que esqueço o caminho de volta. Mas por algo além da minha compreensão eu acabo voltando e me culpando por esses devaneios. Me entupindo de remédios, me drogando,licitamente e me contendo em emoções entendidas racionalmente nessa busca incessante por algum sentido nessa eterna roda gigante de insensates socialmente aceitavel para uma mulher aos 41 anos, mãe solteira, desempregada. 

segunda-feira, 13 de junho de 2022

Minha virada, minha vida, meus insights

     Tenho certeza que meu companheiro à época percebeu, e certamente entendeu que eu estava contendo a raiva sobre o que aconteceu para nao ficar violenta com ele. Ele sabia que eu tinha medo de como podia ficar violenta caso perdesse o controle, e ele sabia como eu era explosiva. Então aquela raiva contida deixava claro pra ele nao falar no assunto. E ele nunca mais tocou no assunto, nem pra pedir desculpas, e nem pelo amigo que pisou na bola e passou a frequentar nossa casa por alguns meses. Enfim enquanto falo sobre isso entendo algumas situações que na época eu nem poderia imaginar. Mais transformei esse raiva em fome, e comia, comia lanches, comia salgadinhos, comia e comia. Do ano de 2006 ao ano de 2008 eu engordei 40kg e atingi a marcar de 160kg, quase a minha altura em dobro, os remédios antidepressivos nao tinham efeito e eu só queria dormir quando os tomava, e a escolha entre comer e dormir o comer sempre ganhava e os remédios ficavam na prateleira. 

    Hoje escrevendo eu entendo que o meu ex marido me dava o que eu pedia pra ele, por que sabia que minha tristeza e depressão só foi agravada com a decepção que ele ajudou a ser concreta na minha vida. Eu nao tinha mais vontade de nada, e nada tinha graça, ou eu me interessava por algo por alguns momentos e logo perdia a graça. Em 2008 eu encontrei uma psicóloga que me fez ver as coisas com mais clareza, e na busca por um culpado sobrou pro meu ex marido. Mais eu poderia ter feito diferente, ter ido a cidade da prova um dia antes e etc. Mais não fiz, porque a minha energia na época era de derrota, e acabei atraindo coisas que me ajudaram a sabotar uma grande e real oportunidade. Eu entendi que precisava mudar minha energia, mais depois de cada sessão eu chegava em casa e só queria comer e depois dormir.

    Foi uma consulta de rotina com meu ginecologista que ele foi duro e claro comigo, depois de um ano ele olhou pra mim e perguntou se eu queria me matar, e diante da minha negativa ele me recomentou um colega dele psiquiatra e me falou que se eu acreditava que o que eu estava fazendo nao era uma busca pela morte eu tinha que ir atrás desse psiquiatra. E eu fui, porque conscientemente eu nao estava tentando me matar. Mais depois da primeira consulta eu entendi que estava sim sub conscientemente tentando me matar, As comidas carregadas em óleo e açúcar, os litros de refrigerante ao dia, e dormir depois de tudo isso era claramente um sintomas de suicida funcional, a qualquer momento eu poderia dar cabo a minha vida e ninguém nunca ia entender já que eu era uma pessoa comunicativa e cheia de brincadeiras. Irônica era minha postura diante de quase todas as circunstancias da vida.

    Na época nós nos mudamos para um bairro perto de outros familiares, inclusive meus avós. Era um bairro cheio de ladeiras e de difícil acesso ao ónibus, então com a possibilidade de ter pra onde ir e com quem conversar sem precisar ficar em casa eu comecei a sair de casa um pouco mais, os remédios que me foram receitados me deram um empurrão pra viver mais minha vida. Mais foram eles tbm que me levaram a uma fase que eu realmente nao consigo me lembrar, mais meu ex marido me conta assim como minha tia que ele só salvou minha vida porque Deus tocou e colocou a mão fazendo ele voltar pra casa depois de sair pra trabalhar para buscar algo que ele achou importante, Me encontrou com a faca na mão ainda depois de cortar meus pulsos as 8 da manha. Eu estava sentada no sofá. Me levou ao hospital, e eu permaneci internada por 3 dias. 

    O psiquiatra falou que poderia ter sido um efeito colateral do remédio, mais poderia também ser uma evolução no tratamento porque eu finalmente percebi que estava tentando me matar a tanto tempo sem sucesso que escolhi fazer isso de forma mais eficaz com tempo hábil de ninguém me socorrer, ja que a rotina era o marido sair de manha e só voltar de noite, as vezes bem tarde. Eu realmente nao me lembro disso, de nada daqueles dias. Mais me lembro que ao voltar pra saca sem medicação fui indicada a fazer um tratamento de 2x por semana com a psicóloga. E nessas sessões eu entendia um pouco mais sobre mim, e precisava ter mais auto conhecimento. Nas seções eu permanecia apática, como se a vida fosse um cinza em linhas retas. Acordei pra vida como dizem, mais pra uma vida sem cor e sem graça.

    E nesse acordar eu corri atrás da minha saúde, e comecei a conseguir controlar minha compulsão alimentar, mais como era difícil! Me lembro de varias vezes em que o marido trouxe lanche pra casa e eu recusei pra comer salada com bife, e depois acabava comendo o lanche mesmo assim, apesar de evitar o refrigerante, eu acabava comendo, afinal jogar fora um lanche tão bom era até pecado. Como foi difícil, as vezes eu sozinha em casa eu queria comer algo diferente, preparava uma massa de nhoque de batata, fazia o molho cozinhava tudo, limpava a coisinha e depois de tudo pronto e servido eu me sentia culpada e acabava deixando o prato no formo e o marido comia todo feliz achando que eu estava melhorando, e me dedicando ao nosso relacionamento. Aprendi muitas receitas nessa época. Descobri muitos combinações de temperos naturais e me aventurei muito na cozinha. Foi nesse ano que minha mãe resolveu fazer uma cirurgia bariátrica, e eu assumi os cuidados alimentares dela na época.

    Eu aproveitei varias vezes os legumes do caldo que fiz para ela para fazer sopas para o meu jantar. E caminhava até o mercado com meus cães para ir buscar legumes frescos e temperos naturais de uma horta que havia lá no bairro na parte alta, então era uma caminhada que dava mais de uma hora de ida e volta, e eu fazia todos os dias. A revelia de cuidar da minha mãe o fato é que eu emagreci 20kg nessa rotina e foi em uma caminhada dessas que perdi a consciência na calçada perto da UBS do bairro e ao medirem minha glicemia eu estava com 830. Eu nao fazia ideia do que isso representava, mais a medica e toda a equipe se surpreenderam. Enfim, minha psicóloga foi acionada, e o psiquiatra entrou de novo na historia. Ele me parabenizando porque eu havia emagrecido e estava conquistando uma rotina e ela preocupada porque no ver dela eu estava me sobrecarregando e me escondendo por traz de algum problema pessoal mais profundo. 

    Não sei vc mais eu acredito muito que as situações que engolimos e temos dificuldades de expressar se refletem em doenças no nosso corpo. Nem toda doença é reflexo disso, mais muitas delas são. Fui diagnosticada diabéticas aos 24 anos de idade. Eu sabia o que era a doença, e o que ela representava, sabia inclusive uma possível origem além da genética para estar manifestando essa doença em mim, Mais não estava pronta pra tratar o problemas psicológico que alimentava o fator físico dessa maldita doença. Não apenas alimentação que eu precisava mudar, e hoje escrevendo sobre isso eu me admiro por mesmo sem saber tudo que sei hoje sobre minha diabetes e os motivos que me levaram a desenvolver essa doença eu consegui controlar a bendita por anos só com reeducação alimentar. O Descontrole da minha diabetes aconteceu quando tive que aceitar uma mudança na minha vida contra minha vontade, e suprimi um grito de frustração por educação e me alienei espiritualmente de tudo e de todos.

    Foi nessa fase de alienação espiritual que frequentei a igreja evangélica, no seguimento da assembleia de Deus, e vivendo dentro da "vontade" de Deus eu me obriguei a aceitar algumas coisas que meu corpo gritava que eram erradas e minha vontade era de gritar e falar tanta coisa. Enfim eu via as coisas erradas, nao fazia minha possível parte pra mudar e não abria a boca pra reclamar do que eu percebia estar errado. Eu tentei de forma concordata e sensata ser parte de uma comunidade que eu sentia no intimo nao me aceitava, nem considerava a possibilidade de que eu fizesse parte dela. Eu senti falta de mim mesma, eu me perdi de mim e permaneci dessa forma por alguns anos, aprendi coisas a meu respeito e a respeito de mim como nunca antes. Mais eu olhava pra fora, tudo era de fora pra dentro, partindo dos outros e nao de mim, e a vida foi ficando insuportável. Viver foi me sendo pesado, eu ja nao via possibilidade de amar o outro como Jesus me amou e isso era dolorido. Em uma oração desesperada e cheia de erros eu pedi a Deus que me levasse para morar no céu, ou inferno, mais que me tirasse daquela situação. E Deus me ouviu, me presenteou com algo que tirou meu chão e mudou meu mundo.

    As pessoas acham que quando cansamos de viver querermos a morte, e era isso que eu achei que queria, morrer; mais Deus me mostrou que eu tinha uma escolha, e me deu a oportunidade de ser mãe. De amar e construir uma relação de amor com um outro ser humano. Eu abracei a oportunidade, e contrariando meu instinto de me sentir proprietária me senti coadjuvante. Passei a viver minha vida em função dela, minha filha. Durante toda a gestação e por alguns meses depois que ela nasceu eu vivia em função dela, para ela e literalmente por ela. Eu nao tinha prazer em estar viva, eu nao tinha vontade de estar viva, eu nao sentia nenhuma alegria em acordar todas as manhas e viver minha vida, fosse o que fosse, mesmo que aquela situação fosse diferente acredito olhando agora pra trás que  nao teria feito diferença se ela tivesse nascido com o peso pra idade, ou o tempo certo de gestação. 

    Eu nao queria mais viver, era isso. E a existência dela me fazia continuar vivendo, eu fazia por ela o que eu sabia que uma mãe deve fazer por seu filho. Nessa fase da minha vida me reaproximei da minha irmã mais nova, e ela tendo um filho com seus quase 10 anos me aconselhava e me mostrava onde eu podia fazer diferente com a minha filha que ela fez com o filho dela. Mas eu me perguntava o tempo todo se eu iria conseguir. Duvidava de mim mesma em questões de caráter e moral que eu via ser colocado quase como regra para as crianças e eu nao as considerava certas, úteis ou mesmo necessárias em uma educação. E me aprofundei mais em conhecer a educação respeitosa, ou educação afetiva que tanto se fala hoje em dia, mas que há 5 anos atrás era uma polemica sem tamanho, tanto pra quem educa os filhos como para os filhos educados dentro dessa metodologia.

    Eu decidi e comecei a educar a Manuella dentro desses princípios. Alguns deles eram conflitantes com coisas que eu escutava na igreja, de irmãs que educaram seus filhos na tal da vara curta. E isso foi me afastando da igreja, minha filha e a educação pra que ela seja um adulto emocionalmente inteligente e possa tomar suas próprias decisões sem depender de mim ou do pai para tomar essas decisões é algo que me move desde o começo. Decidir certas coisas quando eu via que meu único motivo pra continuar nesse planeta é minha filha me fez perceber que sem mim ela nao terá o que eu almejo pra vida dela. Simplesmente porque a minha família nem a do pai dela tem condições de oferecer a ela o que eu acredito que ela possa desenvolver se for bem encaminhada. Amor ao próximo, empatia, carisma. Coisas que eu acho importantíssimas mas que não se ensina se nao pelo exemplo.

    Eu escolhi esse caminho pra mim, e no momento de maior solidão e desalento Deus me disse que me daria uma pessoa pra ser meu apoio. E como sabemos os planos de Deus não são como queremos ou esperamos e criamos expectativas, tanta expectativa que quando essa pessoa veio eu abri mão da minha própria vida por ela. E agradeço muito ao choque de realidade que tive quando adoeci com ela internada no hospital da Criança em Belford Roxo e ninguém pra me dar suporte ou apoio. E mesmo a Manu internada e entupida de medicação ela me mostrou que para viver nao precisamos de muito. Apenas nossa união e nossa amizade. E eu decidi vir embora pra SP com minha filha. Porque aqui eu poderia conseguir uma escola integral pra ela sem medo de me atrasar pra buscar caso tivesse algum imprevisto. Porque aqui eu teria o apoio da minha família.

    Super valorizei quem falava que me apoiaria quando eu estava longe, e acabei vivendo anos de tormentos psicológicos e medos assustadores que me fizeram considerar muitas coisas, inclusive minha vontade de viver pela minha filha. Aprendi e consegui entender que temos vidas separadas e a forma que eu a sobrecarregava com essa de nao ter vida além da vida dela poderia depois se tornar um problema, como o que eu tinha e ainda tenho de conviver com a minha mãe. Então eu comecei a mudar, permitir que minha filha tivesse a própria vida, fizesse as próprias escolhas, por mais que que me desagrade. E isso tornou nosso vinculo ainda mais forte. Eu e a Manu nos entendemos no olhar e ela hoje com 5 anos de idade dá um baile de controle e maturidade emocional que nem eu acredito as vezes em coisas que ela me fala ou pergunta.

    E com todas essas mudanças eu hoje vivo a vida pra mim, e minha filha vive a vida dela pra ela, e sim estamos juntas nessa fase das nossas vidas e somos mãe e filha. Ela me respeita e eu a respeito, temos conflitos sobre questões que eu sei que deveria ser eu mando e ela obedece, mais sei que minha experiência na fase de alienação espiritual me deixou bem consciente do quanto é importante esses conflitos. E estou ensinando minha filha, não a fugir dos conflitos, mas ser consciente que eles acontecem e precisam ser resolvidos da melhor forma para as pessoas envolvidas. E principalmente que quando um conflito existe ele é reflexo de algo errado no relacionamento. Então posso dizer com certeza que ainda terei vários insights na vida. Posso virar minhas chaves ainda algumas vezes. Mas com certeza a vda que vivi até agora foi muito bem vivida.

    

    

Utopia ou decisão?

    Algum de vocês já parou pra pensar em como a vida tem um jeito engraçado de mostrar que estamos reclamando desnecessariamente de algo? Porque tipo como acontece em filmes e seriados de televisão, a gente reclama de alguma coisa, e logo a vida coloca no nosso caminho algo para mostrar que existem formas piores de lidar com a coisa que estamos reclamando e que existem coisas bem piores para se viver na mesma situação. Tipo um alerta sobre, não reclama que pode piorar?
    E nessa de não reclamar que pode piorar engolimos coisas que nos machucam porque poderia ser pior?!? Porque pensamos no que poderia ser pior e não no que pode melhorar se reclamarmos? Porque temos essa tendência humana de ver o lado ruim das coisas que nos acontecem  e incomodam mais que nos atingem de forma bem mais sutil e definitiva? Estou aqui pensando em como isso me fez mal a minha vida toda.
    Aconteceram coisas comigo essa semana que me fizeram pensar quase que obcecadamente nisso. Existem coisas que me incomodam muito nas falas de algumas pessoas perto de mim, atitudes de outras pessoas que nao reclamo ou faço comentários para nao piorar; mas me perguntei por muito tempo o que pode ser pior? E acima disso me lembrei de coisas que eu mudei por reclamar e por pedir pela mudança. Coisas que eu sei que sem minha fala, ou reclamação continuariam da mesma forma incomoda e desconfortável. 
    Então decidi fazer algo diferente, reclamar e tentar fazer com que as coisas mudem; caso não aconteça a mudança eu terei que mudar, e a única forma que me faz mudar em vários desses momentos é me afastando. Não quero mal de ninguém, mais a minha prioridade esta estabelecida e eu quero muito que as coisas possam fluir mais tranquilamente. E isso provavelmente vai fazer algumas pessoas me agredirem porque vai mudar muito meu comportamento com elas. Estou mesmo disposta a fazer isso? Sim estou, e já comecei. Cansei de ser a emocionalmente inteligente que compreende os outros e nunca pode fazer exigências ou ser filha da puta. Cansei de verdade desse meu lado emocionalmente equilibrado que como a agua ao ver um obstáculo contorna mais nao o desafia a sair do caminho, as vezes basta um com licença que o obstáculo se retira porque nem ele entendia ser um obstáculo.
    Quero mudanças e já sei que elas não vão acontecer de fora pra dentro, mais se eu ficar só querendo e nao agir diferente estarei esperando uma utopia. Então vou parar de esperar mudanças que conversando não estão acontecendo. Cansei de ser a racional que controla as emoções e vou sim começar a expressar meu desagrado com certas situações. Não deixarei de ser algo conquistado com muito aprendizado e determinação, minha inteligência emocional não esta ainda na universidade mais ja conclui meu curso básico do assunto. Então basicamente vou ser menos amigável e mais determinada nas minhas colocações. E para concluir esse texto utópico e achei de suposições deixo minha pergunta, e com vc? A vontade de fazer diferente passou de utopia? 

quarta-feira, 1 de junho de 2022

Depressão funcional

    Quando ouvi esse termo pela primeira vez eu achei que era mais um termo chique inventado dentro das salas de aula de psicologia para modernizar o que o pai da psicologia havia traçado como transtorno que podemos desenvolver ao longo da vida. Eu nunca me dispus a estudar a psicologia, e sei que ela é muito mais complexa, sei que existem vertentes que simplesmente tornam os ensinamento de Freud apenas como ponto de partida, e por isso eu considerei o termo funcional depois da depressão como um enfeite desnecessário. Mais o meu diagnostico continuava o mesmo, depressão funcional, recebi esse diagnostico aos 26 anos durante um curso técnico de radiologia que fiz no Hospital das clinicas de SP. Pela proximidade com a área e a facilidade em conseguir o atendimento no Instituto de psiquiatria de lá eu fui fazer meu tratamento para depressão.
    Já me leram aqui no blog falando de como eu sinto as energias que nos rodeiam e respeito esse universo mais principalmente o universo que cada um atrai pra si. E nesse momento consegui levar minha mãe pra se tratar também, e ela teve o diagnostico de Bouderline. Conversa que ja tive comigo em outro post. Na minha cabeça imatura da época era mais uma forma de o médico dizer que ela tinha problemas que precisavam ser tratados. Por escolhas pessoais minhas eu decidi sair da capital, recusar uma proposta de emprego muito boa e voltar para o interior onde nao arrumei emprego, mais fui atrás de acompanhamento medico psiquiátrico quando percebi que estava entrando em depressão de novo. 
    Talvez a decepção por nao ter conseguido um bom emprego na cidade que eu morava, e que morei quando fiz o curso, ou a quebra de confiança que aconteceu entre mim e meu primeiro marido, ou mesmo a obesidade que naquele momento ainda nao era tão evidente, já que eu sempre fui gordinha. Eu realmente nao sei dizer, mais me lembro de ter tentado de varias formas enviar currículos, entregar currículos, e alcançar esse tão almejado emprego como técnica em radiologia. Dois anos depois percebi que era impossível, me dediquei então aos concursos públicos e realmente fui aprovada, me preparei muito para as provas e consegui bons resultados, mais nunca na posição que me chamariam dentro das vagas disponíveis.
    Foi uma prova pra cidade de Jaguariúna onde abriram vagas para varias cidades em redor e por motivos de aposentadoria dos atuais técnicos da época precisavam de muitos técnicos. Me lembro que o numero de vaga excedia e muito a posição que eu tinha conquistado no ultimo concurso que participei. Praticamente me dediquei todos os dias por 6 ou 7 horas seguidas de estudos, depois de revisão. Eu dormia com um áudio gravado que fiz sobre os 206 ossos do corpo, sobre o nome das articulações, sobre as partes de um vertebra e sobre os pontos de referência para uma boa radiografia, das partes mais solicitadas. Me lembro de ter feito resumos escritos e depois feito gravações sobre cada resumo me preparando pra essa prova. E no dia eu acordei e não sabia dirigir ainda, e dependendo do meu marido na época confiei que ele conseguiria me levar, mais ele arrumou um suposto amigo que sabia exatamente onde era a prova e na espera por esse amigo perdi a possibilidade de fazer a prova.
    A decepção foi tão grande que eu nem soube expressar na hora, quando cheguei em casa, eu chorava destruindo as fitas gravadas e jogando os resumos fora. Eu so chorava e destruía tudo. Não me lembro como mais daquela época só sobrou um livro de anatomia radiológica e que não foi destruído com as outras coisas. Até as apostilas do curso eu destruí de raiva e me decidi a nao depender de mais ninguém pra chegar a um local de prova ou em qualquer compromisso importante. Foi naquele momento, hj escrevendo eu percebo, eu entendi que precisaria fazer por mim o que ninguém faria, por mais que me dessem esperanças eu nao podia confiar na oferta de ajuda de ninguém.
    Com o diagnóstico de diabetes em 2008 eu resolvi dar um basta nos meus problemas com comida e fui atrás de algo que estava virando moda, reeducação alimentar, um caminho muito mais difícil de seguir quando se quer resultados rápidos de emagrecimento, mais muito mais satisfatório no resultado a longo prazo. E eu posso dizer que consegui. até os dias atuais eu já posso fazer substituições alimentares que me ajudam com diferentes coisas e eu estou muito satisfeita por estar como estou nessa questão alimentar. Já sobre a depressão... anos, mudanças alimentares, marido que foi e marido que entrou na minha vida, gestação de alto risco, parto prematuro e 3 meses de UTI neonatal, marido 2 que foi também, me fizeram ter outra visão sobre esse funcional depois da depressão.
    Deprimi de verdade e de forma muito profunda quando descobri a diabetes depois de perder mais de 20kg. Cheguei a pensar na bariátrica naquela época, mais minha vontade de viver era tão pouca que eu nao fui, me agarrei a desculpas e objeções que hoje vejo eram futilidades. Certamente meu processo de reeducação alimentar teria sido menos confuso de explicar e entender se eu houvesse aceitado a cirurgia naquela época. Mais como ja falei aqui as energias que nos rodeiam e nos impulsionam, nos influenciam colaborando com o que vivemos. E naquela época minha energia ainda nao estava circulando nos padrões de vitória e auto reconhecimento que estão hoje em dia.
    Eu posso dizer como uma depressiva funcional que a depressão é uma merda, uma doença que nos rouba a felicidade e qualquer possibilidade de ser feliz, porque tudo absolutamente tudo perde a graça. Não estaria dizendo nenhuma novidade, e pra quem tem depressão então é só mais um texto de reflexo das próprias emoções. Muito se fala sobre depressão, mais pouco se fala sobre esse termo que acompanha muitas pessoas como eu. Passei por uma depressão profunda, entendi racionalmente a necessidade de continuar vivendo. E nesse entendimento comecei a vier a vida de forma mecânica e automática, perigosamente feliz por fora e amarga por dentro, eu Gisella consegui tornar em ironia as situações controvérsias que eu tinha emocionalmente ao estar em alguma situação.
    Meu auto conhecimento me ajudou e me fez ficar bem sensível as minhas alterações de humor ao ponto de conseguir falar claramente com o psiquiatra a necessidade de alguma medicação pra me segurar na beira do abismo antes que eu caia de novo. Mais isso não me livra da sensação de vazio sem graça que me acompanha com frequência em diferentes situações. Escrever aqui era um refugio que me dava uma sensação muito boa, mais depois percebi que nesse mundo digital acabei me obrigando a escrever e escrevi coisas que na verdade nao eram o reflexo do que eu realmente queria dizer. E nisso me perdi da essência que eu quero que seja esse blog. Estou com esse texto buscando resgatar isso, porque esse refugio me faz muita falta.
    Sou uma pessoa que sofre de depressão funcional e nunca compreendi direito o que é isso ate entender que eu sou depressiva, mais nao vivo com depressão. Confuso, porque as pessoas que não sabem o que é esse sentimento não vão conseguir captar a mensagem e está tudo bem, mais quem sente a depressão no fundo das suas entranhas percebe o quanto isso é parecido com os próprios sentimentos. Somos comunicativos, vivemos nosso dia a dia sem demonstrar a tristeza que nos assola ao ficarmos sozinhos e com nossos próprios medos e angustias, muitas vezes sem nexo ou sentido algum, mas que nos deixa insones e nos cansam de tal maneira que nem falar sobre isso se quer mais. Porque sempre e tudo que ouvimos quando falamos sobre isso é: mais vc sabe o que é depressão, vc nao parece ser depressivo. 
    Sabe porque quem não entende ou mesmo quem supostamente entende disso fala assim? Porque pra eles a depressão passou tanto tempo sendo estigmatizada como algo que era frescura que adicionar um termo como funcional é além da capacidade naquele momento da vida da pessoa. Eu poderia dizer que eu passei por esses momento de incompreensão da minha doença, mais depois de conseguir viver até aqui sem passar noites insones e muitos motivos de tristeza superados com desenvoltura emocional eu me aceitei depressiva funcional. São momentos que vem de uma depressão muito grande e que me tolhe a vontade de continuar cheia de alegria e me tira o entusiasmo de tudo que me dá alegria rotineiramente. E sou funcional, porque mesmo tendo esse sentimento algumas vezes mais intenso outras como algo bem no cantinho do meu quadro de emoções, eu me coloco de pé, arrumo minha filha, brinco com ela, limpo minha casa, faço nossa comida e converso com meus amigos e amigas pelo telefone. 
    Sou super interessada em varias coisas, e gosto de verdade das coisas que eu faço. Mais enfrento momentos de desgostar de tudo isso, inclusive já comecei a fazer um curso diferente na intensão de fazer algo mais envolvente. Então o problema não esta em me envolver com algo, mais em me manter envolvida e interessada. Por esse motivo desisti de relacionamentos amorosos. Nao me sinto bem em me envolver com alguém que não vai ser envolvente pra mim por muito mais que alguns meses ou menos, e despertar sentimentos nos outros é algo completamente injusto e sei que machuca muito, porque ja fizeram comigo; não farei com outra pessoa. Assim como amizades, as poucas que mantenho eu faço questão de manter e busco me interessar mesmo quando me sinto menos envolvida, mais fazer novas amizades? Definitivamente nao cultivo esse sentimento em ninguém, apenas me permito receber e retribuir a amizade que recebo das pessoas que vou conhecendo na vida. Algumas ficam, outras passam, outras interagem e nos tornamos conhecidos. Mas chamar amigo, isso eu reservei a poucos que fazem parte da minha vida.
    O fato é que ser depressivo funcional faz de mim uma pessoa comum. E quando me perguntam sobre como é ser assim, eu so digo que é. Vivo minha vida, sem rompantes de alegrias, curtindo as pequenas coisas nos momentos que me fazem bem e buscando nao supervalorizar as coisas ruins que sinto e passo nos meus dias. A vida é simples, e ver a alegria com que as pessoas vivem a vida delas me faz pensar em como pode mais de 50% de uma população inteira ser depressiva e achar que é apenas um estado de tristeza constante. Não não é uma tristeza constante, é uma tristeza patológica que faz a vida parecer cinza e tudo que acontece por mais empolgante que seja será apenas mais alguma coisa que acontece. Isso é a depressão funcional que me atinge, e que eu vejo atinge muitas pessoas que eu conheço.