Existem momentos da vida em que você já estudou tanto sobre suas próprias emoções e já se conhece de uma forma tão profunda que percebe quando cada célula do corpo te pede pra sair de perto de alguém para evitar uma tragédia mas as circunstancias práticas e lógicas não permitem a distancia necessária e a única distancia que é possível conseguir parece ser insuficiente. Estou vivendo um momento desses. Dividida entre o amor que eu sinto por alguém e o amor que aprendi a ter por mim mesma. Na verdade eu não estou dividida, eu estou travada financeiramente por causa da impossibilidade de trabalhar com o que eu escolhi fazer para recomeçar minha vida aqui , já que antes de fazer essa escolha eu não estava conseguindo nenhum outro emprego de carteira assinada que me pagasse um salário que me permitisse uma mínima independência financeira.
Escrevo esse post com uma decepção e uma frustração tão grande que não sei se vai ter algum sentido depois que eu terminar de escrever, mas irei postar. Tem umas duas ou três semanas que resolvi voltar a escrever aqui. Bom, resolvi, mas não escrevi. Assim como resolvi em outras oportunidades e desisti por vários motivos. Porque no final talvez o meu problema seja justamente acreditar na minha incompetência e ficar tentando provar pra mim que não sou algo que na verdade... eu não sei porque eu preciso provar alguma coisa para mim ou para qualquer pessoa. Cresci com muitas vantagens, fui privilegiada, tive muitas coisas que muitas pessoas acham que trazem felicidade das pessoas; mas de tudo que tive o que me faz mais feliz e poder escrever sobre tudo isso. Algo simples, que eu poderia fazer com um papel e uma caneta, não com lápis, porque eu peguei horror a escrever com lápis na quinta série com um maravilhoso professor de geografia.
Estou frustrada, minhas emoções estão me deixando com os nervos a flor da pele, minha insatisfação chegou a um limite emocional que me faz achar que eu não consigo ir além desse ponto. Tenho uma filha linda, amorosa e carinhosa. Cheia de amor pra dar, espontânea e generosa. Mas esta em uma fase do desenvolvimento dela onde precisa ter amparo emocional e carinho combinado com presença e direção firmes que eu não me sinto capaz de dar a ela agora. Porque estou com esse sentimento? Não sei explicar, ou talvez eu saiba mais não esteja pronta pra escrever sobre isso. Mas me sinto insuficiente como mãe da minha filha e hoje me vi pensando: só espero que se eu morrer o pai dela tenha a hombridade de tirar a Manuella daqui e levar ela pra morar com ele; porque ela pode até não ter com ele todo o luxo que ela tem aqui, mais vai ter muito do que esta faltando. Só não me pergunte o que é porque naquela hora as lagrimas escorriam do meu rosto e eu me esforçava pra conseguir manter minha respiração porque senti uma crise de ansiedade me sufocando.
Minha relação com minha mãe foi deturpada completamente quando eu tinha 12 anos e eu vejo a nossa relação assim. Do ponto de vista da mente dela eu estou competindo com ela pela atenção do meu pai desde que ele entrou na nossa família, em tudo. O fato de eu ter mantido oculto de todos até alguns anos atrás que o jovem de 18 anos que ela contratou quando eu tinha 12 tentou me estuprar na escada do prédio onde morávamos e ela me disse que eu tinha me oferecido e junto com ele me ameaçou dizendo que se meu pai soubesse da historia eu e meus irmãos ficaríamos sem pai porque ele perderia a cabeça e cometeria um desatino; depois disso manteve esse monstro na nossa família como motorista e empregado de confiança dela por mais de 10 anos, não ajudou nossa relação.
Eu achei que fazia o bem, escondi, menti pra mim mesma que aquilo era passado que não me machucava mais... no entanto, aquilo permeou e moldou toda a relação familiar que existe hoje ao meu redor. Contei para os meus irmãos, primeiro pra minha irmã que contou pra meu irmão e depois teve uma reunião onde foram feitas declarações e se tentou extirpar esse câncer da relação familiar. Mas sabe um câncer benigno, que você opera, tira uma parte, trata com todo tipo de terapia. Mas ele volta a crescer? Esse tipo de câncer não tem cirurgia que elimine. Dependendo da parte onde ele esta é possível se fazer uma amputação para evitar que ele se espalhe e seja fatal, ou então conviver com ele e aceitar as consequências até que ele traga a morte que com certeza virá. è assim que eu vejo esse problema hoje. Um câncer que precisa ser amputado. Eu preciso amputar esse câncer da minha vida.
Nossa quanto drama! Sempre a mesma coisa, sempre a mesma ladainha e as pessoas imaginando que isso foi horrível e esta doendo demais e deve ser traumático viver dessa forma. Não é horrível, não foi traumático viver assim. Eu tive uma vida boa. Usei o episodio a meu favor, e reconheço que o silencio que eu escolhi manter até pra minha psicóloga na época me deu benefícios; eu podia fazer tudo, absolutamente tudo, inclusive desrespeitar a autoridade da minha mãe que ela não me faria ter consequências, e isso me fazia "bem". Eu era uma ovelha negra. Conhecem um ditado que se diz: fez a cama agora se deita? Pois bem, eu não fiz a cama, mais estava com fama de ter feito e resolvi me deitar.
E minha adolescência foi isso. Eu me construí em cima da desmedida e desbravadora garota que corre atrás do que quer, que descobre o que gosta sem medo de experimentar. Saia com os amigos, gastava minha mesada com bebida, depois de comprar meu anticoncepcional, porque eu queria poder escolher quando engravidar, mesmo usando preservativos não queria nenhum risco de uma gravidez indesejada; trazer ao mundo um filho pra fazer com ele o que fizeram comigo? Nunca. Esse era o meu maior medo. Eu adorava ficar na escola, estuda era bom, não porque eu amava estudar, mas porque estudar era melhor que ficar em casa perto daquele mostro. Minha vida não foi ruim, mais não construí grandes amizades nessa fase da minha vida, pra se ter amigos é necessário ter confiança, e eu não podia confiar à ninguém esse segredo.
Agora já não é segredo, está se tornando um post em um blog, que eu não sei se algum dia alguém vai ler mais que já não é mais segredo e só de poder escrever sobre isso eu já me sinto mais leve. Minha vida foi boa, tive uma infância deliciosa, eu digo muitas vezes que não me lembro quando me perguntam de algumas coisa porque eu prefiro fingir que esqueci a lembrar os motivos do porque elas foram colocadas no fundo da minha memorias e guardadas com tanta preciosidade ao ponto de eu não querer compartilhar com mais ninguém. Não fui uma adolescente melancólica, com tendências suicidas. Na verdade se alguém falasse em depressão nunca se relacionaria isso a minha pessoa. Afinal só hoje e dia se entende que o estereotipo da depressão é um equivoco. E quando eu fiz 18 anos e a psicóloga que me acompanhava falou que eu devia procurar um psiquiatra já que eu poderia fazer isso sem a autorização dos meus pais que nunca haviam aceitado a orientação dela para isso antes eu perguntei porque e ela me falou sobre a suspeita de depressão. Eu ri e aquela foi a ultima consulta que eu fui com ela.
Até que eu conheci meu primeiro marido. Na verdade eu e ele nunca nos casamos, moramos juntos por 13 anos, ele foi o homem que se dispôs a me sustentar quando em um rompante emocional eu juntei as coisas que eu achava que tinham valor pra mim na vida coloquei em uma mala e sai da casa dos meus pais. Na época estávamos namorando, um tio meu morava no interior e a esposa passava a semana sozinha com as filhas e aceitou me hospedar por uns dias, eu fui pra casa dele e me ajeitei na cidade arrumando tudo com relação a casa e fiquei. acabamos juntos por 13 anos. Fui feliz por 11, e os últimos 2 eu não fui totalmente infeliz, mas também não estava satisfeita mais. Foi melhor pra nos dois que terminou. Esse período eu tratei da depressão com a ajuda dele e de um psiquiatra, ele sabia de toda a minha historia, me ajudou muito e foi ele que me mostrou como eu era por baixo de todas aquelas mascaras que eu construí durante a minha conturbada adolescência.
Foi ao lado dele que eu descobri que eu realmente era, e percebi coisas que eu não gostava em mim, percebi as primeiras coisas apaixonantes na minha personalidade. Me perguntei como ele podia amar meus defeitos e entendi que ele não me amava, mas se sentia meu dono, me via como propriedade dele e isso me incomodava. E conforme eu me conhecia e melhorava da depressão eu percebia que eu fui feliz com ele naquele momento da minha vida. mas que o momento estava passando, eu estava mudando e ele não estava gostando das mudanças, e eu não estava disposta a abrir mão das mudanças para agradar ele. Estava gostando demais das minhas auto descobertas pra voltar a ser emocionalmente dependente dele. O casamento não estava mais funcionando. Eu tentei não ser intransigente, tentei fazer dar certo por mais dois anos depois que a ficha caiu, mas foi uma tentativa unilateral que culminou no fim. Bom vida seguiu e hoje ele esta bem e eu melhor, acho.
Olhando pra minha vida eu entendo que meus problemas de relacionamento com minha mãe começaram naquele dia que esta gravado na minha memoria, eu consigo lembrar a roupa que eu usava, a roupa que o nojento usava, as palavras que minha mãe usou. Dizem que devemos deixar o passado pra traz e seguir em frente, perdoar. Ok eu achei que tinha feito isso, mas agora, eu já não sei se fiz, como posso seguir em frente se toda vez que acontece uma briga ou discussão com a minha mãe eu percebo que a fragilidade, a desconfiança, a rispidez, o desrespeito, a ignorância e violência com que nos tratamos ao longo da vida estabeleceu entre nos duas um relacionamento completamente distorcido e diferente de tudo que existe entre mães e filhas? Minha vontade é de passar uma borracha e recomeçar essa relação, e quando eu achei que estávamos conseguindo vem a frase: o meu consolo é que vc vai passar com a sua filha tudo que eu passei com você! Porra!! Como assim!?! Ela deseja pra própria neta o que aconteceu comigo? Ou eu vivi uma realidade alternativa completamente diferente da que ela viveu ou ela esta apresentando problemas psiquiátricos muito mais graves do que as pessoas querem aceitar que ela tem! Ela pode ter um surto psicótico? O que leva uma pessoa a falar algo assim? Porque é tão difícil perceber que nossa relação é diferente e nunca vai ser nem de longe parecida com as relações de mães e filhas das outras pessoas que ela conhece ou vê na televisão? Porque eu não consigo olhar pra ela e respeitar ela como ela diz que eu tenho que... eu respondo isso: porque eu nunca respeitei.
E essa ultima pergunta para a qual eu tenho a resposta é a única que eu sei responder e não tenho nenhuma duvida da resposta. Simplesmente porque eu sinto bem forte em mim que não consigo respeitar uma mulher que me fez conviver com um monstro por mais de 10 anos. Eu não consigo respeitar uma mulher que disse a filha de 12 anos assustada que ela estava se oferecendo a um homem de 18 depois de ele ter enfiado o membro dele na boca dela e que se ela fosse reclamar com o pai era muito provável que o pai perdesse a cabeça e fizesse uma loucura, e ai ela e os irmãos acabariam na sarjeta com a mãe e sem o pai que seria preso, será que valeria a pena? Agora escrevendo isso eu me pergunto como que eu aos 12 anos consegui ficar quieta e não desmoronei ou fiz coisas ainda piores na minha adolescência. Eu acho que diante disso fui uma adolescente muito certinha, e comportada.
Mas eu sei que estou errada, não importa os erros da minha mãe, os erros dela não podem justificar os meus; eu não posso desrespeitar a minha mãe, tenho que respeita-la independente do nosso passado, porque eu quero que minha filha entenda que o respeito é algo que não depende do comportamento da outra pessoa, e se eu quero dar esse exemplo a minha filha eu tenho que começar a praticar, E claro, Deus não permitiria que eu fizesse desse um exercício fácil, e tinha que colocar pra mim uma pratica bem espinhosa, e próxima, minha mãe! e obvio que minha mãe não vai facilitar, nunca facilitou não ia ser agora. Porque na cabeça da minha mãe essa disputa comigo pela atenção do meu pai continua, mas agora ela resolveu que a atenção da minha filha também vai ser disputada, e quer disputar poder e autoridade sobre a minha filha. e ai que a coisa começou a ficar muito complicada entre nós duas.
Eu sigo uma pessoa, a Ana Paula Barros no Instagram, e ela fala sobre sermos mestres de nós mesmos, sobre essa questão de vivermos em uma consciência de massa e essa questão de as pessoas refletirem coisas que estão em nós. Sobre as coisas acontecerem porque escolhemos que acontecessem da forma que aconteceram e fossem como foram para despertarem em nós exatamente o que despertaram. Eu ainda não tive condições de ter uma consultoria com ela, mas sei que um dia irei me presentear com uma e tenho muita vontade de perguntar em que essa minha historia foi uma escolha para o meu despertar? Porque olhando para a Gisella que eu fui antes desse episodio e a Gisella que eu me tornei a partir desse episodio eu me perdi tentando construir uma identidade pra mim mesma que não refletem em nada quem eu sou de verdade!
Eu não sou nem doce nem amarga, nem suave, nem grossa, nem gelada, nem quente, nem sensual, nem frigida. Eu não sou extremos, eu não sou comum. Eu sou filha. Sou irmã, e acredito que não sou das melhores, mas sou irmã. Sou mulher, sou mãe e sou amiga. Sou leal, e muito inflexível quando se trata de caráter. Tenho princípios muito firmes e limites traçados em negrito bem delimitados sobre até onde eu aceito que determinada atitude vá. Mas em outras situações onde esses limites ainda não estão traçadas eu vou sendo maleável e sentindo até onde eu aguento. e como diz meu atual psicólogo, e o meu psiquiatra; nessa sua maleabilidade você esta passando limites que nem você conhece, e isso esta te deixando amargurada. E é essa amargura que esta pela primeira vez em quarenta anos de vida me tirando o sorriso do olhar.
Escrevendo aqui eu me lembrei de tudo isso porque só houve uma situação onde eu senti essa impotência e essa tristeza em toda a minha vida. Meu psicólogo diz que minha verborragia é boa porque eu consigo colocar tudo pra fora. Nossa, eu acho que eu consigo organizar meu pensamentos e não chamo de verborragia, e sim de organizar pensamentos desconexos. Esse sentimento de impotência diante de tudo, da situação, de incapacidade de mudar e frustração de saber que pra qualquer lada que me viro a situação é a mesma ou pior e que qualquer movimento ou palavra pode fazer a coisa piorar. O medo, a expectativa do próximo ataque, a angustia do próximo deslize sem saber onde eu errei eu senti tudo isso depois daquele diz na escada. E o mais assustador disso é que eu não tenho mais 12 anos, mas me sinto tão desamparada quanto eu me senti quando tinha.
Se me perguntarem porque minhas emoções me levaram pra lá e estou me sentindo assim posso te falar muitas coisas, enumerar muitos motivos; mas nenhum deles vai ser tão primitivo quanto o desamparo de saber que mesmo agora com quarenta anos e tendo uma filha de quatro que depende de mim eu não tenho o apoio de ninguém. Comparar é algo irreal, mais emocionalmente de alguma forma pe a mesma situação. A única diferença é que aos 12 anos eu não tinha o apoio de ninguém porque me fizeram acreditar que eu não podia pedir ajuda a ninguém pois pedir essa ajuda iria prejudicar outras pessoas além de mim e bastava que eu sofresse sozinha. Hoje em dia eu não tenho o apoio de ninguém porque eu estou fazendo drama e o que estou vivendo é só um drama porque tive mais uma briga com a minha mãe.
Estou tão de saco cheio de ter as minhas emoções descartadas como banais e infladas por sentimentalismos que as vezes acho que devo sofrer de alguns distúrbio psiquiátrico mesmo porque não é possível que a minha realidade seja tão boa e maravilhosa que eu esteja reclamando de barriga cheia sem motivos e esteja sendo tão ingrata com o universo e com a vida diante de tudo isso que eu tenho. Eu não deixo de agradecer nada do que eu tenho e posso proprocionar a minha filha, materialmente nada, porque tudo de material que minha filha tem na vida dela é o pai dela e os meus pais que proporcionam. Mas eu posso dar meu tempo a ela, brincar com ela de pintura com tinta, ver desenho, e filmes com ela. Estar presente na vida dela em momentos que eu sei que se estivesse trabalhando eu não poderia curtir e acompanhar o desenvolvimento dela; eu agradeço e muito. Todos os dias acordo e adormeço agradecendo e me recriminando por estar chorando por coisas que eu não precisava dar a importância que eu dou.
No entanto eu pergunto pra qualquer pessoa o que fazer com esse sentimento dentro de mim que fica constantemente me dizendo que eu preciso perdoar. Como perdoar uma pessoa que fica constantemente esfregando na minha cara que me odeia por eu ser quem eu sou? Eu as vezes tenho a impressão que ela gostaria que eu não houvesse nascido. As pessoas falam que ela me ama, que é amor demais envolvido e que ela só não sabe demonstrar isso, dizem que eu não facilito as coisas. Porque quando olham de fora a errada sou eu, sempre a filha ingrata, uma mulher de 40 anos que mora e depende financeiramente dos pais não pode reclamar de nada da vida. Não faz nada o dia inteiro, se a mãe pede qualquer coisa ela tem obrigação de fazer sem reclamar! Me diz onde isso esta escrito?
Eu não moro na casa dos meus pais porque eu quero, eu moro aqui porque tem uma merda de uma pandemia que a porcaria de uma população acha que pode combater fazendo aglomeração e abrindo o comercio usando cloroquina e saindo sem mascara porque o presidente eleito com um cérebro de minhoca foi em rede nacional e falou essa falácia e o povo burro que o elegeu fica repetindo isso e discutindo em rede social o troféu de quem é mais idiota ou quem vai morrer primeiro! Eu moro com meu pais porque essa pandemia me obrigou a fazer uma escolha, e a escolha que eu fiz eu pude ficar em casa e viver com os meus pais para evitar o contagio e cuidar da minha saúde. Isso é o que eu fico me repetindo como um mantra pra me convencer a não fazer uma besteira cada vez que meu sangue ferve de vontade de mandar tudo para o quinto dos infernos.
Porque lembra da historia do câncer benigno que as vezes arrancamos algumas células que crescem demais mas eventualmente ele cresce e temos que amputar a parte que ele esta crescendo para extirpa-lo ou aceitar que ele vai nos matar? Então é nesse ponto que me encontro agora, mas meu câncer esta sendo tratado como um incomodo até agora, e começou a incomodar no momento em que minha mãe colocou minha filha nessa disputa infantil de autoridade. Eu entendo que meu pai aceite os defeitos da minha mae e respeite e aceite as escolhas dela e a ame independente de qualquer escolha que ela tenha feito ao longo da vida. Eu entendo e mesmo não fazendo nenhum sentido não vou opinar sobre a forma de vida que ele e minha mãe querem levar mas, querer tirar a autoridade que eu tenho sobre a minha filha deturpando a minha relação com ela porque a minha relação com a minha mãe é ruim isso é doentio e muito cruel. Minha filha só tem 4 anos!
Eu dependo financeiramente dos meus pais, mas se isso continuar eu não sei se vou conseguir aguentar não. Tenho que pensar na minha filha. Até que ponto ficar aqui debaixo dessa proteção financeira e de bem estar monetário vai ser bom pra ela, se eu estou perdendo a minha sanidade mental? Para dar a minha filha uma vida financeiramente melhor eu estou entregando minha sanidade e estabilidade emocional conquistada com tanto suor e descobertas lindas, e isso é realmente o que minha filha ia querer? Escrevendo aqui eu abriria mão de tudo isso, todos os bens materiais e privilégios que minha mãe pode dar a mim e meus irmãos pra voltar a viver com eles naquele apartamentinho no PBK amarelo, vigésimo terceiro andar, a minha irmã bebezinha, o irmão criança com a idade da minha filha hoje a gente chegando de um dia no parque do Ibirapuera, cansados, felizes e unidos. Não tínhamos muito, mas tínhamos um ao outro e podíamos contar com isso. Hoje em dia, temos o dinheiro, usufruímos dos privilégios, e nos perdemos um do outro, cada um no seu tempo. cada um com seu motivo, mas todos, cada um pro seu lado.
Difícil encontrar o equilíbrio entre o ter e o ser. Complicado querer algo mas para ter o que queremos é preciso abrir mão do que precisamos. Entramos em ciclos viciosos de relacionamentos doentes e nos contentamos com coisas para substituir sentimentos. E cada geração que passa estamos mais vazios, a cada século que entra estamos mais tecnológicos e menos emocionáveis. Não é porque não sentimos mais não, é simplesmente porque em algum momento de uma geração perto alguém que a gente ama sofreu o suficiente perto da gente pra gente não querer sentir a mesma coisa e se anestesiar da dor. Começando por nos anestesiar da dor do outro, depois da dor de si mesmo, e em algumas gerações seremos exatamente como nos filmes de ficção cientifica, onde maquinas dominam o mundo. Mas na verdade não serão maquinas, mas seres humanos que desativaram a as funções emocionais do cérebro, porque elas não fazem muito pela parte pratica da humanidade. Afinal, nosso lado emocional nos cometer loucuras demais.