Quando uma pessoa faz algo muito bem feito, ou fala sobre um assunto com alguma maestria, saiba que primeiro ela provavelmente estudou muito o assunto para falar sobre ele, ou ela sabe usar muito bem a arte da dissimulação. Falo com conhecimento de causa. Eu Sou uma pessoa que conheço bem os assuntos que me atrevo a falar, ou dar palpites, e quando ao dar um palpite e interferir em um assunto eu percebo ignorar e não entender tão bem sei dissimular para escapar de perguntas que não saberei responder. Sou esperta por isso? Por alguns anos achei que era. Mais percebi que não. Minha forma peculiar de ver o mundo me mostrou muito cedo que a vantagem que eu achava levar fazendo isso não era de verdade uma vantagem.
Tipo um quebra cabeças, uma pessoa normal vai montar um quebra cabeças separando as peças das bordas e as com cores e traços das imagens parecidas ir aos poucos montando. Era assim que me orientavam a fazer quando tentaram me ensinar. Uma vez eu tentei, foi a vez que eu mais demorei a montar um quebra cabeças de 1000 peças. Porque ter o trabalho de identificar uma peça duas vezes? Se jã sei que é de borda e que ele vai ter aproximadamente um determinado tamanho eu já coloco a peça no lugar suposto de onde ela vai estar quando montado. Assim vou distribuindo as peças e elas vão se encaixando de forma tão harmoniosa que parece dançarem uma linda música, mais que só tocava na minha cabeça e eu não suportava que mexessem no tabuleiro onde eu estivesse montando um quebra cabeças. Me tornava agressiva até que ele estivesse montado. Passando as vezes dias sem dormir direito.
Hoje chamam isso que acabei de descrever de hiper-foco. Eu era apenas chata, antissocial e teimosa mesmo. e ainda sou. Na verdade com toda informação que temos as pessoas ainda olham pra mim de duas formas, sou uma estranha a ser temida ou estranha a ser usada. Não existiu na minha vida uma aproximação onde a outra pessoa soubesse das minhas características de raciocínio rápido, velocidade de percepção, capacidade de conjugar informações e reflexo intuitivo e eu não sentisse que havia algum tipo de interesse. E para tentar me relacionar eu sufocava minha intuição.
Parei de sufocar, aceitei o que me diz a intuição e passei a ser comunicativa e reservada. Falo com muitos me relaciono com alguns e tenho pouquíssimos amigos. Talvez me torne uma reclusa antissocial com a idade, porque está cada dia mais difícil aceitar as coisas como elas tem sido aceitas como normal na sociedade. Eu lembro das minhas aulas de historia dos tempos de colégio e me pergunto se houve alguma bizarra viagem do tempo no estilo "Travelers" do seriado americano e só vieram passageiros da idade media pra o século XXI, Porque tem coisas que essa é a única explicação pra tanta gente achar normal e não se escandalizar ao ver e saber sobre o assunto!
Acredito que sou um ser humano normal, mais com algumas características bem peculiares, sim tenho algumas facilidades que outras pessoas não possuem, mais isso não me faz extraordinária. apenas me permite ser diferente. No entanto o que acontece com uma irritante frequência é um me questionar da minha capacidade de fazer coisas simples do dia a dia. Agora com as redes sociais e as pessoas pegando gosto por compartilharem suas experiências pessoais e sintomas que levaram a um determinado diagnostico fico me perguntando até que ponto esses retratos de vida estão sendo usados para manipular toda a sociedade e rotular as pessoas e com que proposito?
Penso diferente, portanto vejo as coisas se encaixando de forma muitas vezes inusitadas. Já coloquei aqui em outros textos meus sobre o primeiro diagnostico que me acompanhou por muitos anos depressão funcional. Tenho os exames médicos, neurológicos e etc. Recentemente refiz esses exames porque meu psiquiatra trocou minha medicação e a nova medicação foi extraordinária pra mim. Me fez sentir lucidez e pela primeira vez em anos alegria em estar viva. E como essa sensação é boa. Agora escrevendo isso posso afirmar que o melhor que fiz foi escolher pela razão os motivos para continuar porque eu não estaria aqui vivendo hoje esse sentimento.
Ao refazer os exames ouvi tudo uma conversa sobre os avanços da medicina e dos diagnósticos e a pergunta sobre eu ter traços de TDAH na infância ou juventude. E sim Eu fui encaminhada ao psicólogo na adolescência por isso. No entanto nunca fui medicada para esse diagnostico e meu pai principalmente sempre me disse que rótulos só servem para limitar as pessoas. Então ele preferia que as minhas características fossem apenas tratadas como características e não como uma doença. Ao eu me casei jovem, tive depressão profunda e enfim... tem vários textos meus falando sobre o assunto.
O ponto que eu quero com esse texto é que minhas características me tornam uma pessoa única. Mais hoje com esse diagnostico, eu olho para os vídeos que falam sobre o diagnostico tardio de algumas características como TDAH e Autismo de grau 1 e escuto essas pessoas falando sobre oportunidades que perderam por não terem o diagnostico antes, ou coisas e sofrimentos que passaram pela ausência do diagnostico ou mesmo dificuldades que enfrentaram até os dias de hoje por falta desse tipo de diagnostico. Será que algumas dessas pessoas já pararam pra pensar que a algumas doenças mentais até hoje são tratadas como frescura e que esse diagnostico tardio só trás pra cima de quem sofre desses transtornos uma sombra de dúvida e insegurança?
No meu caso os exames comprovaram porque eu cumpro regularmente com minha consultas mensais com o psiquiatra e o psicólogo por ter acesso a saúde privada, e quem não tem esse privilégio? Quem apesar de ter esse privilégio fica sujeito as regras de convenio que troca de medico psiquiatra a cada 6 meses e não consegue dar continuidade a nenhum tratamento até que desiste? Eu mesma questionei meu medico quando ele trocou meus remédios porque eu estava adaptada a eles e sabia que seria uma readaptação que podia não funcionar. Mais ele me mostrou uma hipótese diagnostica alternativa e iluminou algo que poderia solucionar algumas coisas me transmitiu a segurança de voltar a medicação que não estava 100% mais funcionava. Então como se diz eu tive medo mais fiz a troca.
E graças a toda uma conjuntura que está ao meu redor por tantos anos que eu consegui encontrar um caminho seguro para trilhar meu caminho. Mais socialmente falando, qual o beneficio que estamos trazendo a vida das pessoas compartilhando nossas experiências? E qual o beneficio que estamos tendo lendo e assistindo sobre a vida dos outros, nunca indo até o final do que a pessoa está contando, ficando sempre na metade do texto, na metade da historia, na metade do vídeo... Estamos realmente evoluindo como sociedade tecnológica ou usando a evolução da tecnologia para involuir e permitir que as maquinas sejam mais importantes que nós? Pensamentos que me surgem quando começo a divagar sobre a minha pequena passageira e marcante passagem por essa encarnação...