Quando me mudei para outro estado e me coloquei há mais de 800 KM de distancia do que eu considerava ser a causa dos meus conflitos emocionais eu me vi de uma forma que eu não conhecia. Descobri uma pessoa que é generosa, de coração amoroso, com uma capacidade de perdão além de qualquer entendimento. Percebi que tenho um talento inigualável para justificar os erros e escolhas erradas que as pessoas fazem em certas situações da vida e das quais mesmo conscientes dos erros elas percebem e podem ser perdoadas. Me vi ajudando pessoas a se perdoarem, a perdoarem amigos, familiares, vizinhos, pastores. Eu percebi que o que eu fazia era bom, que mesmo me achando uma pessoa ruim eu fazia coisas boas e comecei a me ver de uma forma diferente. descobri que sou calma!
Isso não me permitiu ver que eu podia ser mãe, não me permitiu ver que eu poderia apoiar e ajudar outro ser humano a desbravar esse mundo e essa nossa sociedade, convivendo com as pessoas da minha família. Eu morava em um paraíso, tinha uma vida saborosa e leve; não queria e não aceitava enfrentar meus conflitos internos e insistia em virar as costas para eles. Fui obrigada a sair de lá, e das escolhas que foram apresentadas a que fiz me permitiu continuar sendo quem eu me descobri; fazendo o que eu sentia que me fazia bem, ignorando os espelhos que eram colocados na minha frente e cada vez se aproximavam mais de mim. Escolhi continuar vivendo sem enfrentar meus problemas, sem descobrir e aceitar meu verdadeiro eu.
Quando conheci o homem que hoje é pai da minha filha, eu vi um homem sofrido, de coração puro. Inteligente e dedicado. Determinado e com um objetivo na vida. Uma pessoa centrada e capaz de me ajudar a manter meu pé no chão. Eu era uma boa companhia para ele, ele se sentia bem comigo e fazíamos bem um para o outro. Pela primeira vez eu pensei que seria um uma boa mãe. E pela primeira vez eu pensei acho que posso me arriscar; depois que ele me disse que o maior sonho dele era ser pai. Se me perguntarem hoje se ele falou do sonho de ser pai antes de o pensamento passar pela minha cabeça eu não sei. Mas nosso relacionamento permeava esse assunto. Mesmo sem existir paixão, e aqueles sentimentos que desestabilizam a sanidade mental da gente queríamos ser pais. E encontramos um no outro um sentimento de cooperação e cuidado que nos permitia alimentar essa vontade.
Nossa relação era uma amizade baseada no respeito, com desejo e no inicio havia o frio na barriga do desejo e muito tesão. Ele foi criado por uma senhora (avódrasta) em uma família cheia de problemas. E olhando para trás ele era o tipo de pessoa que eu gostava de ajudar. E eu ajudei, mas ajudei me ajudando. Foi uma relação benéfica para nós dois. E nós fomos felizes. A mãe dele conseguiu viver momentos felizes com ele e os filhos apesar da vida sofrida que ela passou horas me contando nas tardes livres; e nesses momentos Deus me mostrava como eu estava ignorando a oportunidade de ter essas tardes com minha própria avó. Nas vezes em que conversamos sobre Deus as conversas eram boas, gostosas e muito edificantes. Mesmo ela ser uma pessoa muito religiosa e entender muito da igreja conseguíamos conversar muito sobre Deus e seus caminhos e ensinamentos. Sem perder o respeito de como cada uma acreditava essa relação.
Nessa fase eu estava frequentando a igreja, o pai da minha filha até hoje é muito religioso, considerando as circunstancias que ele viveu e foi criado, nossa relação e a existência da nossa filha é um propósito de Deus, hoje eu olho para nossa filha e vejo isso. Na época eu e ele conversávamos sobre como criaríamos nossa bebê quando ele nos fosse enviado por Deus. O tipo de educação era importante, sobre castigos físicos; autoridade de pai e mãe. Se houvesse algo que um não concordasse com o outro resolveríamos fora da presença da criança. Se depois do nascimento da criança nossa relação não funcionasse mais a criança não teria nada a ver com isso. E que se tivéssemos outros relacionamentos nunca ninguém interferiria na nossa relação com nosso filho. E que poderíamos cobrar isso um do outro. Nunca iriamos usar ou deixar que alguém usasse o bebê como corda de cabo de guerra. O bebê seria um ser humano individual, com suas próprias vontades e que aprenderia pelo exemplo a respeitar os mais velhos, os pais, e etc.
Nossas conversas me faziam acreditar cada vez mais na minha capacidade de ser responsável por outro ser; mais um ser totalmente dependente de mim? Eu sempre evitei, fugia até da ideia, mas ter outra pessoa que eu pudesse ensinar a amar acima das diferenças e que me amasse com todos os meus defeitos era muito interessante. Percebi que não poderia esperar que o bebe me amasse, que ele poderia crescer e não gostar de mim e apenas se sentir obrigado a estar comigo; e que era isso que me fazia evitar, mas eu poderia mostrar, fazer a diferença, e já fiz a diferença com tantas pessoas! Começaram meus problemas de relacionamento com minha "sogra". Meu relacionamento já estava sério, nós morávamos juntos há algum tempo e isso estava incomodando a família dele que reaproximada se permitia palpitar sobre minha presença lá já que ela era a dona do apartamento. Mas morar lá para cuidar dela eles não queriam.
Eu busquei evitar os conflitos e dar a ela a paz e o sossego que ela precisava nos últimos anos de vida. Mas meus conflitos e discussões com os outros filhos dela eram frequentes e muito desagradáveis. Eu realmente não consegui depois da morte dela me relacionar por mais que alguns meses de forma cordial com um deles, e com o outro só não cortei laços de relacionamento antes porque a esposa dele é uma pessoa que eu quero muito bem, mais que infelizmente fez a escolha dela e eu agora quase não falo mais com ela como eu gostaria. Mas Deus não me permitiu ser mãe antes que eu percebesse que não se tratava de ter alguém por perto, ou me apoiando, ou a reciprocidade de sentimento ou a minha capacidade de ajudar as pessoas; mas minha coragem de enfrentar meus medos! E desde que fiz aquele teste de farmácia...
Nossa, o teste de farmácia. Foi algo de outro mundo. Eu não sei por onde começar. E portanto vou parar por aqui e fazer algumas considerações que acho importante para essa minha jornada pessoal rumo a maternidade que ainda esta em construção. Vou contar mais sobre a descoberta da gravidez e todo o processo de assimilação emocional que eu passei em outro post. O motivo desse post é mostrar que superar desafios não é enfrentar a sociedade, o preconceito ou os padrões sociais com que fomos criados e educados, Enfrentar desafios é dar a si próprio o reconhecimento de saber do que gosta e do que não gosta independente dos padrões e principalmente das expectativas das outras pessoas. Muitas vezes pessoas próximas criam expectativas em nós que nos fazem esquecer do mais básico, dos nossos desejos, do nosso autocuidado, das nossas emoções.
Superar esse desafio de me reconhecer e aceitar meus defeitos, e amar neles e na forma como eles se desenvolveram na minha personalidade me fizeram ser quem eu sou hoje. Me tornaram mais forte, mais resiliente, mais determinada, mais ponderada e muito mais feliz. Mais o principal, eu ainda não superei, estou superando diariamente esse desafios, com as situações e conflitos diários que vivo e continuo vivendo.